12/18/2017

O cágado e o teiú (Conto), de Sílvio Romero



O cágado e o teiú
(Contos populares do Brasil – Sergipe)

Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)

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Foi uma vez, havia uma onça que tinha uma filha; o teiú queria casar com ela, e amigo cágado também. O cágado, sabendo da pretensão do outro, disse em casa da onça que “o teiú para nada valia, e que até era o seu cavalo”. O teiú, logo que soube disto, foi ter também à casa da comadre onça, e asseverou que ia buscar o cágado para ali para dar-lhe muita pancada à vista de todos, e partiu. O cágado, que estava na sua casa, quando o avistou de longe, correu para dentro e amarrou um lenço na cabeça, fingindo que estava doente. O teiú chegou na porta e o convidou para darem um passeio em casa da amiga onça; o cágado deu muitas desculpas, dizendo que estava doente e não podia sair de pé naquele dia. O teiú teimou muito: “Então”, disse o cágado, “você me leve montado nas suas costas.” — “Pois sim, respondeu o teiú; mas há de ser até longe da porta da amiga onça.” — “Pois bem; mas você há de deixar eu botar o meu caquinho de sela: porque assim em osso é muito feio.” E teiú se maçou muito, e disse: “Não, que eu não sou seu cavalo!” — “Não é por ser meu cavalo, mas é muito feio.” Afinal o teiú consentiu. “Agora”, disse o cágado, “deixe botar minha brida”. Novo barulho do teiú, e novos pedidos e desculpas do cágado, até que conseguiu pôr a brida no teiú e munir-se do mangual, esporas etc. Partiram; quando chegaram em lugar não muito longe de casa da onça, o teiú pediu ao cágado que descesse e tirasse os arreios, se não era muito feio para ele ser visto servindo de cavalo. O cágado respondeu que ele tivesse paciência e caminhasse mais um bocadinho, pois estava muito incomodado e não podia chegar a pé. Assim foi enganando o teiú até à porta da casa da onça, onde ele meteu-lhe o mangual e as esporas a valer. Então gritou para dentro de casa: “Olá, eu não disse que teiú era meu cavalo? Venham ver!” Houve muita risada, e o cágado vitorioso disse à filha da onça: “Ande, moça; monte-se na minha garupa e vamos casar.” Assim aconteceu com grande vergonha para o teiú.

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