Alvarenga Peixoto - Aspectos biográficos
Artigo publicado no ano de 1901, no "Correio Mercantil". Pesquisa, transcrição e adaptação orográfica: Iba Mendes (2018)
---
José de Inácio, poeta brasileiro,
falecido em 1744, no Rio de Janeiro, era filho de Simão de Alvarenga Braga e de
D. Ângela Micaela da Cunha. Estudou preparatórios no Colégio dos Jesuítas desta
cidade, indo depois para Coimbra, onde bacharelou-se na Faculdade dessa cidade.
Em seguida, graças à interferência do padre Manuel de Macedo, foi nomeado pelo
Marquês de Pombal, juiz de fora de Cintra.
Regressou ao Brasil em 1766, sendo
nomeado ouvidor do Rio das Mortes, em Minas Gerais. Tendo renunciado à
magistratura, recolheu-se a uma fazenda que possuía, ocupando-se da lavoura e
de trabalhos de mineração. Nessa época D. Rodrigo de Meneses conferiu-lhe a
patente de coronel de cavalaria de Rio Verde. Relacionado com as principais
famílias da capitania de São João del-Rei, onde possuía a sua fazenda,
comprometeu-se na conspiração mineira de 1789, da qual foi um dos principais
cabeças seu cunhado Francisco de Paula Freire de Andrade.
Foi, segundo se afirma, Alvarenga
Peixoto quem propôs a divisa para dístico da bandeira republicana. Quando
descoberta a conspiração foi preso em São João del-Rei, em maio de 1789 e,
conduzido para Ouro Preto, recolhido à cadeia de Vila Rica, tendo sido, em
seguida, enviado para o Rio de Janeiro onde, além de algemado, ficou preso e
incomunicável na Ilha das Cobras.
Comprometeu-se bastante nos
interrogatórios a que foi submetido, tendo sido condenado à morte. A sentença
com que o condenou assim reza: “Condenam
os réus... Inácio José de Alvarenga Peixoto que... que com o baraço e pregão
sejam conduzidos pelas ruas públicas ao lugar da forca e nela morram morte
natural para sempre, e depois de mortos lhes serão cortadas suas cabeças e
pregadas em postes altos até que o tempo as consuma... a do réu Inácio José
Alvarenga Peixoto no lugar mais público da Vila de São João del-Rei até que o
tempo a consuma, declaram a este réu infame e infames seus filhos e netos e os
seus bens confiscados para o fisco e câmara real.”
Foi-lhe, entretanto, comutada a pena
de morte em degredo perpétuo para Angola, tendo falecido, em 1793, no presídio
de Ambaca. Sua esposa, ao ter conhecimento da iníqua sentença que condenara
Alvarenga Peixoto enlouqueceu, tendo sua filha sucumbido de dor.
Segundo consta dos autos de devassa da
Inconfidência Mineira a família de Alvarenga Peixoto era composta de sua esposa
D. Bárbara Eleodora Guilhermina da Silveira e dos filhos varões: José
Eleutério, de idade de 4 anos; João Damasceno, de 3 anos, e Tristão de 2, e da
filha Maria Ifigênia, de 12 anos.
Como poeta fez parte Alvarenga Peixoto
da Arcádia com o nome de Alcece,
segundo uns, e de Eureste Fenício,
segundo outros. Nas suas composições ressaltam sempre o amor da família e a
independência da Pátria. São notáveis os versos que enviava da prisão à sua
mulher e, quando se referia à libertação dos escravos como meio da libertação
da Pátria.
Escreveu: Mérope, tradução da tragédia de Cipião, oferecida em 1776 ao
Marquês do Lavradio; Enéas no Lácio,
drama em verso, escrito em Minas e também remetido ao Marquês de Lavradio;
diversas odes, entre as quais se destacam a dedicada à rainha Dona Maria I, ao
Marquês de Pombal e a que compôs em honra da Universidade de São Coimbra. São
lindos e delicados os versos em que ele pinta o retrato de sua adorada a quem
ele chama Anasda. As obras poéticas de Alvarenga Peixoto foram anotadas e
coligidas por Norberto de Souza e Silva e publicadas em Paris, em 1865.
“Correio da Manhã”, junho
de 1901.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...