5/06/2018

Antônio Feliciano de Castilho – Aspectos biográficos

Antônio Feliciano de Castilho – Aspectos biográficos

Texto publicado originalmente na revista "Lusitânia", em edição de 1929. Transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2018)


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Antônio Feliciano de Castilho, primeiro Visconde de Castilho, está incluído no número dos maiores poetas e prosadores de Portugal.

Foi um dos grandes batalhadores, ao lado de Herculano e Garrett, para a reforma da literatura portuguesa, por eles despertada do marasmo arcádico e pseudoclássicos para a vida intensa e ardente do romantismo, e para o estudo do povo e da sua história.

Castilho ficara quase completamente cego desde a infância, mas o seu espírito soube, apesar disso, adquirir forte cultura clássica e as suas belas faculdades de poeta manifestaram-se com rara precocidade. As Cartas de Eco a Narciso, A Noite do Castelo, Os Ciúmes de Bardo, Amor e Melancolia, Escavações poéticasO Outono são as mais célebres obras poéticas originais, mas os seus maiores títulos de glória são, talvez, as suas admiráveis traduções, em verso, de Anacreonte (Lírica), de Virgílio (Geórgicas), de Ovídio (Fastos, Metamorfoses, Arte de Amar) e de Molière (O Misantropo, O Avarento, Tartufo, O Médico à Força e O Doente da Cisma).

Escritos numa linguagem puríssima, os seus trabalhos conservam-se como modelos de elegância, de classicismo e de sentimento romântico contra as tendências nefastas que se acentuam, dia a dia, para a destruição da língua portuguesa.

A infância merecia-lhe o mais desvelado carinho e, pensando sempre como lhe poderia ser útil, escreveu o Método Repentino, que teve o seu nome e que veio a produzir uma funda revolução na maneira de ensinar as crianças. Algumas gerações entoaram com entusiasmo esse Hino do Trabalho, que soava como uma espécie de canto de guerra contra a ignorância e a preguiça, e era de ver como dezenas de vozes infantis, vibrantes de entusiasmo, trêmulas de comoção, atordoavam os ares com o "Trabalhai, meus irmãos, que o trabalho...”  e iam pelas ruas acordar na alma do poeta, com os seus cantares juvenis, uma alegria intensa e uma suprema consolação.

Liberal convicto, não pouco sofreu pela propaganda das suas ideias políticas, mas, escravo do ideal que escolhera, de tudo lhe fez sacrifício, não lhe regateando nem a sua fortuna pessoal, que não era pequena, nem o seu talento, que era enorme.

Revista “Lusitânia”, 16 de outubro de 1929.

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