5/04/2018

Eugênio de Castro – Aspectos biográficos

Eugênio  de Castro – Aspectos biográficos

Texto publicado originalmente no jornal "A Noite", em edição de 1945. Transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2017)

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Eugênio de Castro, notável poeta português, nasceu em Coimbra a 4 de março de 1869. É uma das figuras de maior relevo no conjunto das letras contemporâneas lusitanas.


Suas poesias são de um esquisito e têm um encanto particular, que firma uma personalidade inimitável. Eugênio de Castro publicou uma infinidade de volumes. Fecundo e inspirado, soube levar à poesia os mais triviais problemas diários, elevando-os com a magia de sua arte sublime. Seus poemas são, precisamente, uma elevação da vida permanente dos sentimentos humanos, dos sonhos de seu povo, com o qual se sente plenamente identificado, apesar da sua excepcional universalidade poética.

Suas rimas e sua métrica são absolutamente pessoais, de maneira que os poemas de Eugênio são a expressão singular de um pensamento não menos singular. Daí surge, então, sua inimitabilidade, sua personalidade, sua individualidade poética, porque o popular poeta português tem, antes de tudo, o valor indiscutível da individualidade. Individual no aspecto criador; individual no sentido orientador e não menos individual na forma expressiva de seu pensamento, que foi sempre a superação de si mesmo.

Eugênio de Castro, num país no qual a poesia se manifesta geralmente lírica, é o mais lírico de todos os poetas. Mas, sob o acentuado lirismo da forma alenta a mais crua das realidades: a da vida do homem, com suas tribulações, com suas dores, com seus sonhos mais íntimos. É que no fundo do poeta domina o pensador, o sociólogo, o patriota que sonha um futuro de glória para sua pátria e seu povo.

Se em algum poeta domina a angústia permanente do momento, Eugênio é dos primeiros, porque sendo como é um homem do povo, está superado na angústia pela angústia criadora, que é alento para as multidões, e que é nele a mesma vida feita verso, feita dor.

Eugênio de Castro é dos poucos poetas — partindo da base universalística do autêntico poeta — que soube unir o popular ao eminentemente artístico. Por isso, apreciando muito nele a ideia, não se pode desprezar a forma. Com artifícios deslumbrantes, com frases magníficas, com imagens cheias de luz e cor, construía verdadeiras maravilhas poéticas. Daí o ocupar por méritos próprios uma cadeira na Academia de sua pátria.

Jornal “A Noite”, 8 de maio de 1945.

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