7/05/2018

Temas Poéticos: NOITE - III


Dá Meia-Noite

SOUSÂNDRADE

Dá meia-noite em céu azul-ferrete
Formosa espádua a lua
Alveja nua,
E voa sobre os templos da cidade.

Nos brancos muros se projetam sombras;
Passeia a sentinela
À noite bela
Opulenta da luz da divindade.

O silêncio respira; almos frescores
Meus cabelos afagam;
Gênis vagam,
De alguma fada no ar andando à caça.

Adormeceu a virgem; dos espíritos
Jaz nos mundos risonhos –
Fora eu os sonhos
Da bela virgem… uma nuvem passa.

★★★

Uma noite em los andes

RONALD DE CARVALHO

“Naquela noite de Los
Andes eu amei como nunca o Brasil.

De repente,
Um cheiro de Bogari, um cheiro de varanda
carioca balançou no ar…

Vinha não sei de onde o murmúrio de um
córrego tranquilo,
escorregando como um lagarto pela terra
molhada.

A sombra vestia uma frescura de folhas
úmidas.

Um vagalume grosso correu no mato.
Queimou-se no sereno.

Eu fiquei olhando uma porção de coisas
doces maternais…

Eu fiquei olhando, longo tempo o céu da
noite chilena as quatro estrelas de um
cruzeiro pendurado fora do lugar…”

★★★

Pela noite
(A Rodrigo Otávio)

PEDRO RABELO

Digam do amor com que eu acarinhava,
Todos os astros, todas as estrelas...
Digam quanto as fitava e como, ao vê-las,
Ela, a estrela mais lúcida lembrava.

Dos céus em fora, pela noite, e pelas
Nuvens que eu tristemente contemplava,
Digam como daquele afeto escrava
Minh'alma ansiava por compreendê-las.

Tudo contem... Do meu estranho afeto
Falem da minha dor contida
Por largos meses e por largos anos,

E esse que for o astro mais indiscreto
Conte como me viu a alma ferida,
Por desenganos sobre desenganos.

★★★

Noite de saudade

FLORBELA ESPANCA

A Noite vem pousando devagar
Sobre a Terra, que inunda de amargura...
E nem sequer a benção do luar
A quis tornar divinamente pura...

Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura...
E eu ouço a Noite imensa soluçar!
E eu ouço soluçar a Noite escura!

Porque és assim tão escura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó Noite, em ti existe
Uma saudade igual à que eu contenho!

Saudade que eu sei donde me vem...
Talvez de ti, ó Noite!... Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!

★★★

Noites de chuva

ANTÔNIO GOMES LEAL

Eu não sei, ó meu bem, cheio de graças!
Se tu amas no Outono — já sem rosas —
A longa e lenta chuva nas vidraças,
E as noites glaciais e pluviosas!...

Nessas noites sem luz, que — visionários —
Temos quimeras místicas, celestes,
E cismamos nos pobres solitários
Que tiritam debaixo dos ciprestes!

Que evocamos os líricos passados,
As quimeras, e as horas infelizes,
Os velhos casos tristes olvidados
E os mortos corações sob as raízes!...

Nessas noites, meu bem, em que desfeito
Cai o frio granizo nas estradas,
E tanto apraz sonhando, sobre o leito,
Ouvir a longa chuva nas calçadas;

Nessas noites, elétricas, nervosas,
Todas cheias de aromas outonais,
Que a tristeza tem formas monstruosas,
Como, num sonho, os pórticos claustrais;

Noites só em que o sábio acha prazeres,
— Tão ignorados dos cruéis profanos; —
E em que as nervosas, místicas, mulheres,
Desfalecem chorando, nos pianos;

Nessas noites, meu bem! é que os poetas
Têm às vezes seus sonhos mais brilhantes,
Folheiam suas obras prediletas...
— Evocam rostos... e visões distantes!


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