8/05/2018

"Algas e Musgos", de Luís Delfino (Crítica)


Algas e Musgos, uma crítica

Texto publicado originalmente na revista "Vida Doméstica", em edição de 1927. Transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2018)
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Luís Delfino, que morreu aos setenta e tantos anos de idade, nem sequer nos deixou um único volume de versos, apesar de ser o poeta mais fecundo que o Brasil já possuiu. Como se sabe, o autor das Imortalidades era temperamento poético exuberante, espontâneo, que versejava com prodigiosa facilidade. Deixou, por isso, matéria para muitos e alentados volumes.

Os admiradores do grande poeta, que o são todos os que sabem estimar a poesia, esperavam, com justificado anseio, o primeiro livro da série a ser publicada pelo Sr. Tomás Delfino, que, zelosa e avaramente, tem sob a sua guarda esse tesouro paterno. E quando já começavam a desesperar-se, eis que, afinal, aparece Algas e Musgos!
Todos a um tempo se apressaram para deslumbrar-se, ante o faiscar das joias raras, como só as sabia cinzelar magníficas e rutilantes Luís Delfino. No entanto, o livro em que se encontram duzentos e seis sonetos, foi uma decepção para muitos espíritos, dentre os quais para só citar um, se vê o também grande e glorioso poeta Alberto de Oliveira, que disse em carta aberta ao Sr. Tomás Delfino: “só ao digno filho de Luís Delfino, não se querendo demover do propósito de, sem nenhuma seleção, estampar tudo o que achou escrito da mão paterna, se deve a impressão desagradável produzida em alguns espíritos por várias das páginas de Algas e Musgos”.
Realmente, nem tudo quanto escreveu Luís Delfino é admirável; conhecemos muita produção sua que chega a ser abominável, de tão medíocre no referente à essência e à técnica do verso.
Mas seja como for, Algas e Musgos é um livro bom, pois há nele páginas que só um poeta genial seria capaz de escrever. E o Sr. Tomás Delfino merece ser louvado, apesar do seu ponto de vista sobre a publicação da obra paterna não ser o mesmo que o nosso.
Revista "Vida Doméstica", maio de 1927.

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