Nasceu na cidade de
Santos, província de São Paulo, aos 13 de junho de 1763: foram seus pais o
coronel Bonifácio José de Andrada e sua mulher D. Maria Bárbara da Silva.
Seus primeiros estudos foram
dirigidos pelo virtuoso bispo de São Paulo, D. frei Manoel da Ressurreição.
Aos 16 anos apareceram os
primeiros assomos de seu estro poético.
Em 1783, findo seus primeiros
estudos, seguiu para Portugal, matriculando-se na universidade de Coimbra, onde
obteve os graus de bacharel formado em direito civil e em ciências naturais.
Apenas formado, seguiu para
Lisboa rodeado de merecido renome e prestígio, que reunido a amizade do duque
de Lafões, deram-lhe entrada na academia real de ciências de Lisboa.
Em 1790 deixa Portugal para
viajar a Europa conjuntamente com o distinto mineiro Manoel Ferreira da Câmara
de Bitencourt e Sá, ambos escolhidos por aquela academia e ao governo proposto
para aquela viagem científica.
Nessa viagem, que durou dez anos,
percorreu a França, Alemanha, Bélgica, Holanda, Itália, Hungria, Boêmia, Suécia,
Noruega, Dinamarca, Turquia, e através das lutas que agitavam a Europa, foram eles,
em sua derrota, enchendo de admiração aos sábios com quem tratavam.
O lugar de inspetor das minas
de Noruega lhe foi oferecido, e não aceitou.
Numerosos trabalhos científicos,
selados com o cunho de seu muito saber, publicados em diversos idiomas, tornaram
seu nome conhecido e granjearam-lhe brilhantes homenagens, e as corporações científicas
das primeiras capitais da Europa, querendo honrar seu mérito, apressaram-se em
admiti-lo em seu seio. Foi recebido sócio das sociedades: — de História Natural
e Filosófica de Paris; da Academia Real de Ciências, de Estocolmo; da Lineano e
mineralógico de Jena; da dos Investigadores da natureza, de Berlim; da Geológica
de Londres; da de Física e História Natural de Génova; da Werneriana de
Edimburgo; da Academia de Ciências de Copenhague e de Turim; da sociedade
Marítima de Lisboa, e da Filosófica de Filadélfia, voltando a Portugal em 1800,
coberto de glória e imenso prestígio.
Apenas chegado foi incumbido
de criar na universidade de Coimbra a cadeira de metalurgia, da qual foi
nomeado lente, comissão que desempenhou por largo tempo.
Foi ainda nomeado intendente
geral das minas e metais do reino; superintendente do rio Mondego e das obras públicas
de Coimbra, e desembargador da relação do Porto.
Muitos e importantes trabalhos
administrativos lhe foram confiados, avultando o encanamento do rio Mondego, as
sementeiras e plantações nos areais da costa.
Em 1800, pelo outono,
acompanhado de seu irmão Martim Francisco e o general Napier, faz uma viagem
minerográfica pela Estremadura até Coimbra, cujo resultado, escrito por seu
irmão, apareceu em 1812.
A invasão francesa veio surpreendê-lo
no meio de suas pacificas ocupações científicas.
Coberto com os louros da ciência,
travou da espada, correu ao campo da batalha e à frente do corpo acadêmico, no
posto de tenente-coronel, militou com gloria contra os franceses.
Livre o solo de Portugal da
invasão estrangeira, foi pelo governo nomeado intendente geral de polícia da
cidade do Porto, cargo dificílimo então, pela discórdia civil em que se dividia
os ânimos, para a extinção da qual muito concorreu sua moderação e equidade.
Em 1812 foi eleito secretario
perpetuo da Academia Real de Ciências de Lisboa, em cujo caráter produziu
importantes trabalhos literários.
Em 1819, obtendo licença do
governo da metrópole, retirou-se para o Brasil, conservando todos os seus empregos,
indo habitar o sítio dos Outeirinhos em Santos, todo entregue às investigações
da ciência.
Em março de 1820 fez com seu
irmão Martim Francisco uma excursão montanística desde Santos até a Paraíba,
cujos resultados foram publicados no Journal
des mines de Paris.
Em atenção a seus relevantes
serviços prestados a Portugal foi a 5 de abril de 1820 agraciado com o título
de conselho, única honraria que teve este modesto cidadão do governo português
e do de sua pátria.
Vice-presidente da junta provisória
de São Paulo, quando foi aqui recebida a ordem para a retirada do príncipe
regente, seus colegas deixando-lhe toda a responsabilidade da ação e dos
acontecimentos, ele os reúne, e em nome dessa junta, dirige ao príncipe essa enérgica
representação de 24 de dezembro de 1821, que ecoou no Brasil inteiro, sendo ele
o próprio portador.
Desobedecendo ás ordens das
cortes, trava-se a luta, e José Bonifácio, que provocara em grande parte este
desenlace, torna-se o arbitro da situação, e por decreto de 16 de janeiro de
1822 é ele nomeado ministro do reino e estrangeiros, pelo príncipe regente.
Deferindo aos votos das
provindas de Minas e Rio de Janeiro, convocou, por decreto de 16 de fevereiro
de 1822, um conselho de procuradores de província, com o caráter de
conselheiros de Estado e de representantes da província que os elegia.
O senado da câmara da corte, e
o conselho de procuradores de província, pedirão a convocação de uma
constituinte; o ministério conformou-se, e a 3 de junho foi ela convocada.
Estava definitivamente
confirmada a independência e a 6 de agosto dirigia-se o povo livre ás nações
amigas.
Desde então o nome de José Bonifácio
ficou inscrito em todos os grandes atos da emancipação nacional, e seu nome simboliza
uma história.
Deputado à constituinte e
ministro, harmonizou sabiamente os direitos dos povos com as exigências da
autoridade, e ele foi um dos vultos mais proeminentes dessa famosa
constituinte.
Nela foi eleito para a comissão
encarregada da fatura do projeto da constituição.
A 17 de julho de 1823 deixou o
poder.
A 12 de novembro do mesmo ano,
dissolvida a constituinte à força armada, foi ele preso e deportado para a
França em companhia de seus irmãos.
Depois de gemer sete anos no
exílio, exalando maviosos cantos em sua lira, volve à pátria em 1829.
A 22 de abril de 1831 toma
assento na câmara como deputado pela Bahia, e sua posição diante do gênio da
revolução que erguia o dolo, fez o governo supô-lo conivente com a restauração, que o arrancou violentamente
do paço imperial, e o mandou conduzir preso à ilha de Paquetá, depois de o
suspender das funções de tutor da família imperial, que lhe fora confiado pelo
honroso decreto de 6 de abril de 1831.
Sua casa foi apedrejada e
apupada, e seu nome coberto de impropérios pela populaça nos aziagos dias de dezembro
de 1833; e o criador da nacionalidade brasileira foi arrastado ao banco dos réus,
e aí respondeu a um processo que o inculpava de traidor à pátria!
Honrosamente absolvido,
retirou-se ao silencio de seu gabinete na mesma ilha. Rude fora a provação, e a
6 de abril de 1838 faleceu em São Domingos o conselheiro José Bonifácio de
Andrada e Silva.
Seu corpo embalsamado foi, por
disposição testamentaria, remetido à Santos, onde descansa na terra humilde de
seu berço.
O decreto de 26 de abril de
1838 concedeu ás filhas de José Bonifácio uma pensão em remuneração dos relevantes serviços pelo mesmo prestados à causa da
independência do Império.
---
Fonte:
Manuel Francisco Dias da Silva - Dicionário biográfico de brasileiros célebres, 1871.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes, 2018,
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...