11/02/2018

A rã sábia (Fábula), de Monteiro Lobato


A rã sábia

A rã sábia (Fábula), de Monteiro Lobato
Como a onça estivesse para casar-se, os animais todos andavam aos pulos, radiantes, com olho na festa prometida. Só uma velha rã sabidona torcia o nariz àquilo.
O marreco observou-lhe o trejeito e disse:
— Grande enjoada! Que cara feia é essa, quando todos nós pinoteamos alegres no antegozo do festão?
— Por um motivo muito simples — respondeu a rã. Porque nós, como vivemos quietas, a filosofar, sabemos muito da vida e enxergamos mais longe do que vocês. Responda-me a isto: se o sol se casasse e em vez de torrar o mundo sozinho o fizesse ajudado por dona sol e por mais vários sóis filhotes? Que aconteceria?
— Secavam-se todas as águas, está claro.
— Isto mesmo. Secavam-se as águas e nós, rãs e peixes, levaríamos a breca. Pois calamidade semelhante vai cair sobre vocês. Casa-se a onça, e já de começo será ela e mais o marido a perseguirem os animais. Depois aparecem as oncinhas — e os animais terão que aguentar com a fome de toda a família. Ora, se um só apetite já nos faz tanto mal, que será quando forem três, quatro e cinco?
O marreco refletiu e concordou:
— É isso mesmo...
Pior que um inimigo, dois; pior que dois, três...


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Fonte:
Do livro "Fábulas e Histórias diversas"
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2018)

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