A literatura grega é a mais
original de todas. Na Hélade se
formaram todos os gêneros e, nas regiões formosíssimas em que as artes e as ciências
tanto se adiantaram, esses mesmos gêneros literários alcançaram esplendor que,
mais tarde, com o decorrer dos séculos, poucos países da civilização ocidental
conseguiram igualar.
A História, como gênero literários,
nasceu na Grécia, com a Logografia. Os logógrafos surgem no século VI e fazerem
uma história seca, e sem intenções críticas ou artísticas. O mais celebre
desses logógrafos foi Hecateu de Mileto, que escreveu "As Genealogias
" e "A Descrição da Terra"; é uma história com muito de
geografia.
O pai da História, Heródoto,
nasceu em Halicarnasso no ano de 480 a. C. Halicarnasso, cidade de origem cária,
foi colonizada por dóricos e sofreu a influência da civilização jônica.
De família rica e nobre,
Heródoto começou cedo a estudar. Ao ler Homero, resolveu-se a abraçar decididamente a sua
vocação de historiador.
Imiscuindo-se em lutas políticas,
foi obrigado a curtir um período de exílio em Samos. Depois, deixando a ilha,
visitou numerosos países da Ásia Menor, o Egito, a Fenícia, Tiro e Sidon, Babilônia,
as costas do Mar Negro. Voltando dessa peregrinação pelo mundo então conhecido,
tornou a ficar-se na ilha de Samos, onde, influenciado pelo espírito da cultura
jônica, escreveu as suas "Histórias". Heródoto morreu no ano de 425
a. C.
Heródoto cria o gênero histórico
e lhe dá um nome: "Historia" ou investigação. As
"Historias" de Heródoto contém nove livros e foram batizadas pelos
alexandrinos com os nomes das noves musas.
Essas "Histórias” abarcam
um período de 320 anos. Aí se conta a luta entre os gregos e os bárbaros, desde
o tempo de Creso até Xerxes. Isso, como assunto principal. Como assunto marginal,
Heródoto vai relatando a história dos povos que a Pérsia englobou em seu império,
na sua ânsia de hegemonia política.
O que é interessante nas Histórias
de Heródoto é a predominância do espirito religioso e das ideias filosóficas na
descrição e no comentário. Os acontecimentos jamais saem da pena do primeiro
historiador sem uma análise de natureza filosófico-religiosa.
Certo, Max Egger afirma que em
Heródoto há a falta sensível de um certo rigor de seleção de material; ele acolhia
certas legendas e determinados exageros da tradição com muita benevolência. Mas
o que é de primeira grandeza é a agilidade com que as figuras dos grandes
estadistas são manejadas pelo escritor: todos eles são animados pelas palavras
de fogosos discursos, que o historiador coloca em suas bocas, fazendo com que
todos eles emitam pensamentos, pareceres, ideias características de suas
personalidades.
Como os historiadores rústicos
que o precederam (os logógrafos), Heródoto escreveu no dialeto jônico. Nessa língua
elegante e fluente, o estilo do pai da História é simples, fácil e gracioso.
Assim, a História, nesse momento inicial de sua existência como gênero independente,
é, acima de tudo, pretexto para criação de beleza estética.
Heródoto não foi apenas o
criador da História: ele mesmo se colocou, por suas virtudes de escritor, entre
um dos mais sagazes e dos mais equilibrados artistas do gênero literário que
criou.
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Fonte:
Revista Vamos Ler!
Edição de 17 de agosto de 1939.
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