

O peso
Não obstante
ter dormido bem toda à noite, amanheceu com a estranha sensação de estar
carregando um enorme peso nas costas. Não sentia exatamente dor, mas a pressão
exercida em seu corpo causava-lhe um excessivo incômodo que lhe fazia perder as
forças, levando-o ao total abatimento.
Inicialmente
achou tratar-se de uma simples tensão muscular ou de alguma raquialgia
transitória. Na tentativa de aliviar o desconforto, ingeriu de uma só vez dois
analgésicos, e mais tarde outros e outros, porém estes não surtiram qualquer
efeito, foi quando, por fim, deliberou procurar um médico.
O ortopedista
examinou-o cuidadosamente e requisitou alguns exames. O resultado mostrava que
tudo estava em perfeita ordem, não havendo o menor sinal de anomalia em seu
organismo.
— Tem a saúde
melhor que a minha, disse o doutor em tom de galhofa.
O peso, no
entanto, oprimia-o de tal modo que se sentia como se estivesse transportando um
volumoso pedaço de ferro ou uma grande pedra em toda a região posterior das
costas.
— É coisa de
sua cabeça, diziam os amigos, numa tentativa de confortá-lo e, quem sabe,
arrancar-lhe de seu espírito as preocupações. O método, no entanto, não
funcionou e o homem continuava levando nas costas um peso maior que suas
forças.
Recorreu então
à medicina alternativa, fazendo uso dos florais de Bach, da magnetoterapia, da
homeopatia, da naturopatia, entre muitos outros tratamentos disponíveis no
mercado, os quais, em vez de aliviar o transtorno, fazia aumentar cada vez mais
seu desespero.
Tentou ainda a
psiquiatria, que buscou curá-lo por meio da prescrição de poderosos sedativos e
ansiolíticos. Seguiu assim à risca todos os procedimentos médicos, e, após
inúmeras sessões no divã, não logrou qualquer resultado prático.
Decepcionado
com as medicinas e com os médicos recorreu então aos templos religiosos, aos
terreiros de umbanda, aos despachos nas encruzilhadas, às orações de fé e às
cirurgias espirituais; fez ainda promessas aos santos e até se entregou ao
martírio do corpo, numa busca desesperada para se livrar do enorme peso nas
costas.
Tudo em vão! o
peso continuava a subir-lhe na espinha, desde as espáduas até os rins e seguia-o
para onde quer que fosse... Tornou-se, pois, parte do seu próprio corpo e se
conformou com ele.
Naquela mesma
noite deitou despreocupado e dormiu como uma pedra. Ao acordar notou que o peso
tinha se esvaído por inteiro de suas costas e que estava livre daquele corpo
invisível e opressor. Sentiu-se estranho... e desesperou-se.
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