A PARÓDIA
O Dinheiro
(Paródia ao soneto “Alma Minha”, de Camões)
Dinheiro meu gentil
que te partiste
Tão cedo da algibeira
descontente,
Repousa no credor
eternamente
E viva cá meu
bolso sempre triste.
Se aí, no lugar
para onde fugiste,
Memória da algibeira
se consente,
Não esqueças
aquele foro ardente
Que sempre nela
tão forte sentiste.
E se vires que
pode merecer-te
A saudade que
ainda me ficou
Da pungente dor
que tive em perder-te,
Roga ao credor que
de mim te ausentou
Tão cedo às minhas
mãos venha trazer-te
Quão cedo de meu
bolso te levou.
J. PINTO MONTEIRO
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O ORIGINAL
Alma minha gentil, que te partiste
Alma Minha Gentil,
que te partiste
Alma minha gentil,
que te partiste
Tão cedo desta
vida descontente,
Repousa lá no Céu
eternamente,
E viva eu cá na
terra sempre triste.
Se lá no assento
Etéreo, onde subiste,
Memória desta vida
se consente,
Não te esqueças
daquele amor ardente,
Que já nos olhos
meus tão puro viste.
E se vires que
pode merecer-te
Alguma cousa a dor
que me ficou
Da mágoa, sem
remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que
teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá
me leve a ver-te,
Quão cedo de meus
olhos te levou.
LUÍS DE CAMÕES
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