1/24/2019

Temas Poéticos: MÃE - IX

Minha mãe

MARIO LINHARES
Fortaleza, 1910.

Há quanto tento, mãe, como em mármore grego,
Teu amor entalhar no bronze de um soneto;
E embalde empunho escopro a força emprego
Para escodar poder o teu imenso afeto.

E luto e luto mais; luto impaciente e inquieto
Para alcançar o fim a que com amor me entrego,
E na febre voraz de que, então, me acometo,
Saio extenuado enfim, vencido, exausto e cego.

E ante o bloco disforme e tosco da Poesia,
Cai-me o rude cinzel da mão nervosa e fria,
Se o teu santo perfil a burilar me inclino.

Não consigo esculpir o teu amor augusto:
Mas dentro da alma tenho erigido o teu busto
Como escultura ideal de um arcanjo divino!

***

Mãe

ULISSES DINIZ
1951

Carinhosa visão, reflexo verdadeiro
Do mais sagrado amor — humanidade e santo,
És para todos nós (exceto os que, no entanto,
Como eu já não te veem) — amparo hospitaleiro!

Encarnação do bem, ao teu mavioso canto
A dor se lenifica; o teu olhar fagueiro
Esparge em nosso ser —  um fraternal luzeiro
Que desfaz o sofrer que nos maltrata tanto!

No teu regaço amigo e acolhedor, propício,
Recebes com prazer — no mais estoico exemplo
Um filho pervertido, ingrato ou adventício!

Sem ti, sem teu amor... Ó Mãe! eu te contemplo
Ai! de mim, sofredor, que vivo orfandade,
Pela imaginação, no prisma da saudade!

***

A minha mãe
M. OLIVEIRA
6 de janeiro de 1912.


Bem singela porém grande e pura
É a palavra mãe que tudo diz
Com ela menos forte é a amargura
É também ela que nos faz feliz.

Volvei os olhos bem para o passado
Com cuidado volvei-os para o futuro
Amor como o do ser por nós amado
Jamais encontrareis tão grande e puro.

Se a dor de um sono calmo te sacode
Ainda que também dores sofrendo
A ti verás em breve ela correndo

E solicita ligeira ela te acode
Na parte dorida a mão pousando
A dor mais que ligeira vai passando.

***

Ser Mãe

COELHO NETO

Ser mãe é desdobrar fibra por fibra
O coração! Ser mãe é ter no alheio
Lábio, que suga, o pedestal do seio,
Onde a vida, onde o amor cantando vibra.

Ser mãe é ser um anjo que se libra
Sobre um berço dormido; é ser anseio,
É ser temeridade, é ser receio,
É ser força que os males equilibra!

Todo o bem que a mãe goza é bem do filho,
Espelho em que se mira afortunada,
Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!

Ser mãe é andar chorando num sorriso!
Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!
Ser mãe é padecer num paraíso!


***

Quem amo
(À minha mãe).

ISMAEL COSTA
17 de julho de 1930.

A mulher mais formosa e idealizada,
Que é para mim a imagem da candura,
Que a sorrir desabrocha uma alvorada,
Que e é toda divinal — santa criatura!

Que nos olhos minh'alma desenhada
Tem na retina casta que fulgura,
Que a voz é poesia bem ritmada
Ao som da lira encantadora e pura...

A mulher que me prende e me cativa,
Que me devota o mais sincero amor,
Que vejo quase sempre pensativa,

Por mim entregue a firme adoração,
É minha mãe, a melindrosa flor
Que tenho no jardim do coração.



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