6/12/2019

Terra Mater (Conto), de Trindade Coelho



Terra Mater

Manhã de julho.

Estrada fora, o destacamento seguia “à vontade” debaixo da soalheira intensa. Devido ao calor, devido a essa nostalgia dos campos, que pouco a pouco os amorrinhara, os soldados iam agora calados, tristonhos e de mau humor, – e só o trup-trup da marcha, desigual e muito pesado, chegava, contínuo, aos ouvidos do oficial, que à frente seguia a cavalo.

– Eh, rapazes! – chamara ele já por duas vezes. – Vocês parece que vêm a dormir?!

Não iam a dormir, coitados. Mas eles próprios só agora é que reparavam também naquela modorra, e a espantavam pondo-se a conversar, ajeitando e ajeitando-se as mochilas uns aos outros:

– Chó, burro! – diziam alguns para os companheiros. – Para aí, que te cai a carga!

Mas daí a pouco, insensivelmente, recaíam todos no mesmo silêncio – cada qual a pensar, outra vez, nas delícias do seu “torrão”...

Até que vinha de novo a voz do alferes: – Vocês acordam, ou não acordam?!

Como se os vissem já com os olhos do corpo, lá estavam, diante de cada um, os campos da sua aldeia; as árvores que davam sombra a esses campos; as fontes e as ribeiras que os refrescavam; as casas, as capelas, os caminhos...

– Pequena e tão pobre! Mas vá lá saber a gente porque há de gostar assim da sua terra!

E a lembrança de que tinham perdido tudo aquilo, de que os tinham apartado de tudo aquilo, mais viva lhes fazia, nesse instante, a saudade do que haviam sido...

– Ora aqui está para que um homem nasce! Mal se precata, vem a dar nisto, que pouco mais é que burro de carga!

Mas afinal, por que tinham vindo parar naquilo? Que mal tinham eles feito para semelhante castigo? Sim, que mal? Quando mais novos, lembravam-se que o pai os ameaçava, empregando sempre estas palavras:

– Anda lá que te ponho umas correias às costas! Ouves?! Ponho-te umas correias às costas, tão certo como haver uvas!

E a mãe, se estava presente, acudia logo como a esconjurar:

– Credo! Antes morte que tal sorte!

Mas, sem o merecerem, e até contra vontade desse mesmo pai, um dia a ameaça tinha-se cumprido, – tinha “pegado”, como as pragas que o diabo escuta!

– Se não valia mais, mas é ter nascido cego ou aleijado!

E tateando, medindo a passividade a que tinham descido, alguns desafiavam-se a eles mesmos com ironia, e como a vexarem-se com bofetadas:

– Vá! Sai lá agora daqui, se és capaz! Vá!

Ouviu-se outra vez a voz do oficial, agora já arrepiada:

– Então?! Bem digo eu! Vindes a dormir, ou que é que vindes?! – E arrostando com o destacamento, ameaçou de má catadura: – Ou vocês apertam, ou eu meto-os na forma em acelerado!

Houve outro sussurro, outro movimento vivo de despertar. Alguns cantarolavam: Meu pai chora que se mata

Por eu chegar ao estalão:

Não chore, meu pai, não chore,
Que eu hei de ter livração.

Mas, sobre a estrada que se desfazia em poeira, em breve recomeçaram os pés a mover-se maquinalmente, o braço a aguentar a espingarda com indiferença, o dorso a vergar sobre a mochila... A muitos já lhes escorria o suor pela cara abaixo, levavam a camisa pegada ao corpo, e iam, eles todos, vermelhos e afogueados. Entretanto, quase não pensavam nisso, com os olhos fitos na sua visão, longe... – como nalguma fada que lhes acenasse...

– Adeus! Adeus! Até quando?

– Adeus! Adeus! Quem sabe lá!

Persistentemente, vinha-lhes agora a lembrança do lar, – do pai, da mãe, dos irmãos, da família toda. Que estariam todos a fazer? Àquela hora, mourejavam os homens na faina das ceifas; amanhando o jantar, as mulheres labutavam nas casas; os pequenitos estavam à sombra, à beira dos caminhos e por baixo das árvores, ou ao pé das fontes chapinhando nos charcos; e os maiorzitos, aforrados em cima dos trilhos, andavam já na faina das eiras:

– Eh, boi! Eh, Carriço!

As eiras! Também lá fazia sol, nessas eiras onde o pão se trilha. Mas não mordia como naquela estrada maldita, sem fim, que os levava não sabiam aonde! – As eiras! – Em mangas de camisa, embora puxando a um mangual, não há calma que se não aguente. Depois, o tratar cada um do que é seu, o recolher o “pãozinho” que Deus dá, e com que premeia o trabalho de todo o Inverno, em vez de cansar até dá saúde. Ri-se durante a trilha; molham-se as goelas com vinho fresco, e água fresca se não há para vinho; arrancha-se à sombra das árvores comendo a frugal refeição; vê-se quem passa e o que se passa; ouve-se e diz-se... – As eiras!

O trabalho é alegre e dá alegria. Quando cai a tarde, vem a fresca; e sobre a ramagem das árvores, onde a passarada começa a cantar, – no céu esverdeado, lá baixo, os poentes parecem de fogo... Depois, à noite, não falemos! Tudo aquilo anima-se de conversas e de danças, de descantes e de namoricos, à luz de um luar de prata. Ouve-se a viola até se pegar no sono, estirados em cima das “parvas”; e de manhã, ao acordar, o céu parece lavado... – Que diferença daquela vida, esta vida!

Mondando ou semeando; nas aradas ou nas sachas; nas ceifas, nas vindimas, nas apanhas; nos lagares de azeite no tempo do frio, ou nos do vinho no tempo da calma – se haveria vida melhor do que essa! Não, não havia; com certeza que não havia! E p’r’o não chega, as festas do ano nos seus dias certos; as feiras e os mercados; os bailes se alguém casava; os serões pelo Inverno fora, – e aos domingos à tarde, no adro, o jogo da barra e o do fito, enquanto em cima, no campanário, repicavam a algum batizado...

E como se tudo isso fora ainda pouco, lá vinham as matanças no tempo devido; as descascas, as debulhas, as debagas e as carmeadas; as janeiras à porta do ano, e os “Santos-Reis” logo ao pé; os “compadres” e as “comadres”; o entrudo com a festa do galo; a quaresma com as suas devoções, e para os rapazes com o jogo do pião; pelo São João as grandes fogueiras; os magustos em “Todos-os-Santos”; no Natal as consoadas; – e uma vez por outra, ao ar livre no campo das trilhas, esses “autos” que têm tanta fama! Fora o mais! fora o mais!

Depois, como as aldeias são tão pequenas, cada qual decorara a sua. Vê a igreja onde foi batizado e onde ia à missa todos os domingos; a casa onde nasceu; as dos vizinhos uma por uma; a “residência”, a escola, o estanco e a taberna.

E dentro de cada casa, sabe de cor tudo o que lá está; vê cada coisa no seu lugar, escuta as vozes dos que lá falam – vai jurar o que estão a dizer... Pelas ruas, o que por lá há é como se o estivessem a ver: – em tal sítio está agora um carro; naquel’outro há porcos deitados; além, galinhas; vão a passar fulano e beltrano; – em tal janela, entre dois cacos de manjericos, um grande craveiro despejando cravos... E atrás dos cravos, ai, atrás dos cravos, Alguém!...

– Que saudades! Que saudades!

Contrastando com esses campos desconhecidos, por entre os quais a estrada coleia, cada um vai recordando agora, mentalmente, os chouços da sua terra; as hortas e os quintais, as cortinhas e os lameiros, em cada coisa notando, com a cor diferente do solo e a diversidade paralela da cultura, o tamanho e a forma das árvores, quase o seu número, sombras e clareiras dispersas, fugas de prados, pontos brancos de capelinhas – aqui, ali, além...

Agora, como ficava lá baixo um povoado, – entre a folhagem tenra dos legumes, nas hortas à beira da estrada, lobrigavam gente em mangas de camisa, regando.

– Boas-tardes! Boas-tardes!

Ai, que saudades! Quem pudera largar a espingarda, atirar ao chão a pesada mochila, aforrar-se; e botando a correr por ali abaixo, aos trancos e barrancos, fincar as unhas naquela enxada – regar, cavar, cantar!

– Boas-tardes! Boas-tardes! os que acorriam a vê-los passar, de pé ou debruçados pelas paredes, ficavam-se a olhá-los cheios de curiosidade – mas tomados de uma grande tristeza! E ouviam-se alguns dizer, – as mulheres principalmente:

– Coitados! Para que uma mãe cria um filho! Coitados!

***

Ademais, aquela vida do quartel parece que os definhava. Eram como pássaros em gaiola; e, às duas por três, deixavam de se parecer com o que eram dantes, com os irmãos que “lá” tinham ficado, com os pais, com os amigos – adquirindo essa fisionomia neutra, que nem era do campo nem da cidade.

Vista por dentro, aquilo era uma vida de submissões, em que o instinto de independência estava algemado.

Por qualquer coisa, um castigo, uma repreensão, um mau modo. E por maior que fosse entre todos a boa harmonia, esfriava sempre as relações aquela atmosfera ríspida do quartel, contrária a expansões, – em que se não podia rir nem falar alto, e em que a obediência passiva e sem réplica, obrigatória e contrafeita, parecia a muitos uma cobardia – uma abjecção e uma impostura...

Os graus de hierarquia, que fazem os homens inimigos, separando-os, tinham vindo conhecê-los ali, naquela vida. Como era diferente lá na aldeia – cada um na sua terra! Aí, sentiam-se iguais uns aos outros; e tirante o pai, a mãe, o cura, certas figuras de tios, e os padrinhos – todos esses que o próprio instinto colocava mais alto, mas, para compensar, parece que mais perto do coração – o resto não se diferençava em alturas, e apenas a diferença de idades, mais do que a dos teres, extremava, sem os separar, os grupos da freguesia.

Depois, a consciência instintiva de que para nada de útil serviam, fazia-os antipáticos a eles mesmos, deprimindo-os, rebaixando-os no seu valor. Para que serviam?! Cada qual, na sua aldeia e no seu ofício – uns no amanho das terras, outros na profissão que tinham escolhido, eram úteis: pouco ou muito, via-se o que faziam. E ali?! Tudo o que faziam era improdutivo, artificial, – irreal porque se não via...

Aguardavam qualquer coisa, pelos modos... – mas o quê? A guerra?! Mas guerras não as havia; e para cada um se defender, e defender os seus das mãos de inimigos, e as suas terras, e as suas casas, segredava-lhes o sangue que melhor o fariam livremente, por querer e não por serem mandados, – a um rebate do sino da aldeia, como ouviam dizer que se fazia dantes. E então sim, então é que era matar ou morrer!

– Ah, pimpões!

– Para frente é que é o caminho!

– Morra um homem, fique fama!

Oh, essa guerra sim; essa entendiam-na eles! Mas a outra, a que era feita porque os mandavam, sem eles mesmos saberem porquê, para quê nem para que não, essa era para eles antipática –antipática e repugnante como certas escaramuças a que os obrigavam às vezes, nos arraiais e nas eleições, e em que até desfechavam contra os pais, contra crianças e contra mulheres, só porque os mandavam dar ao gatilho, às vezes a um sinal da corneta: – “Fogo!”

Ah, tinham razão os que, por se livrarem de semelhante vida, cortavam dedos ou desertavam, fugiam para o Brasil ou se remiam! Os que tinham de a aturar, essa triste vida de soldado, não podiam ser mais desgraçados! Porque um número lhes tinha saído mais baixo que outro, ou, se mais alto, porque o de baixo tivera “padrinhos” e eles não, – uns poucos de anos naquele degredo, toda a sua liberdade caída num laço! Oh, as “sortes”! Se havia coisa mais desgraçada!

Depois, essa cumplicidade que cada um tivera, embora involuntária, no acaso que os sorteara, indispunha-os a muitos contra eles mesmos – e, o que era pior, agourava-lhes a vida para todo o sempre:

– Assim com’assim, nasci para a desgraça! Hei de ir assim até morrer!

Além de que, essa mesma infelicidade tinha de lhes pesar ao diante pela vida fora, quase como um opróbrio. Era duro, mas era verdade! Porque ter sido soldado, ter – “andado com as correias às costas” – era na tribo uma inferioridade, uma razão de desconfiança, uma agravante:

– Foi soldado, huum...

– Se ele foi soldado...

E por mais que fizessem, caso é que não tornavam a identificar-se com o meio inteiramente – marcados, assinalados no próprio rosto por qualquer coisa que parecia um estigma, e que em vão procuravam esconder:

– Pelas mentes, foste soldado! Huum... Vai-te que não podes ser bom!

Depois, aquela mesma ociosidade, travando-lhes, paralisando-lhes a vida na altura em que lhes iam florindo as energias, fazia-os, aos mais deles, inábeis para a vida do campo – quando um dia regressavam da “praça”. Divorciavam-se desse modo do casal, e portanto da família, – ou eram, no meio dos outros, – pais, irmãos, amigos e conhecidos – instrumentos de trabalho muito imperfeitos:

– Tira-te pra lá! Já te não avezas! Numa enxada não é assim que se pega! Larga!

E porque se lhes fora embora a sobriedade, – o que bastava a alimentar os outros, em quantidade, em qualidade, em amanho, ou era já para eles insuficiente, ou era impróprio; – e tendo vivido tutelados, contando com o comer a horas certas, e sem a consciência de fazerem por ele, o granjear o sustento pelo trabalho, conforme manda a doutrina, parecia-lhes depois um sacrifício.

– Quem fez o trabalho está no inferno!

– Antes as “correias” do que esta vida!

E como se dava o mesmo no vestuário, revertendo, dificilmente e como que vexados, ao padrão de onde haviam saído, – ou sacrificavam a necessidades fictícias o produto do seu labor, mais se extremando dos outros num sentido que era a estes antipático, – ou, se não podiam fazê-lo, convenciam-se, erradamente, que a fortuna os atraiçoara:

– Ora aqui está! Andei pra trás com’o caranguejo!

De um modo ou de outro – de todos os modos! – a vida pervertera-se-lhes; e até entre as próprias raparigas, entre essas mesmas, namorar um “soldado” era desprezo!

Maria, tola, tola,
Olha o que foste fazer!
Foste casar c’um soldado,
Mais te valera morrer!

E respondiam algumas a um galanteio:

– Cruzes, canhoto! Arreda para lá, que me pegas a sarna!

…Pensavam assim os que iam pensando. E os outros, debaixo da mochila pesada, dentro da farda que os comprimia, dos butes que os molestavam, iam, sob o calor de rachar, numa tristeza que dizia aquilo...

***

Mas, agora, a estrada por onde seguia o destacamento, cortada, chanfrada a meio de uma encosta, abria, de um lado, sobre uma galeria de paisagem admirável, vista dali como de uma varanda. Toda repartida em hortas e pomares, de um verde úmido e tenro, a veiga, embaixo, e para além da veiga o pano da montanha, inteiramente coberto de árvores, lembravam, na harmonia vaga do seu conjunto, um largo, inspirado, soberbo trabalho de cenografia. Não se impunham à vista os pormenores; e a não serem, aqui e além, casas e grupos de casas que alvejavam no verde macio, tudo o mais, defronte, esbatia-se num tom homogêneo, que certas manchas de arvoredo, em pelotões, mosqueando-o de manchas escuras, tornavam, não obstante, variado.

Por não ser extenso nem remoto, esse quadro dava uma impressão profunda aos que o admiravam; e ao mesmo tempo que parecia, todo ele, a obra abstrata da natureza, adivinhava-se, na perfeição inteligente da sua arte, desde a veiga que decorria ubérrima, até à crista boleada da montanha, a ação do homem e do trabalho.

Demais, não vinha de lá o mínimo ruído; – e banhada de uma luz branca, debaixo do céu azul puríssimo, toda a paisagem como que se imobilizara num êxtase, – viva, espiritual, risonha...

Do destacamento, muitos pararam a contemplá-la, por suas vezes extasiados também. E alguns que já a conheciam, outros que eram dali, nomeavam-lhe os pormenores, apontando:

– Além, vês? Uma coisa branca... É uma capela! No fim do Verão, todos os anos, faz-se lá uma grande festa! À roda, e por ali abaixo, tudo aquilo são castanheiros! Cada um que o não abraçam três homens!

E designando as habitações, diziam nomes de casais e de proprietários. Outros mostravam a veiga:

– Tudo por ali são meloais, repara! Melancias como a roda de um carro! Os pêssegos são como punhos! E nogueiras, e cerejeiras, e maçãs às carradas e peras de umas poucas de castas! Ali não falta nada! Olha essas hortas!

– E que lindo! E que bonito!

Acordados do êxtase, prosseguiram. Mas em muitos deles, sob o deslumbramento que lhes fizera a paisagem, a nostalgia do campo acentuara-se-lhes, e pareciam, agora, comovidos. Mais ou menos, voltara a cada um a saudade do seu recanto natal, a visão real de todas as coisas que o constituíam, a sua vida, – tudo isso, enfim, que tinham perdido...

Enternecidos, alguns tinham vontade de chorar. Mas noutros, de temperamento mais recalcitrante, a tristeza parece que tomava a feição de uma cólera surda, moendo neles e desgastando, – desgastando como se fora uma lima...

Iam agora calados; e como quer que um deles, estacando de repente, fizesse, num gesto de surpresa, um gesto de atenção, os mais pararam também, e puseram-se todos de ouvido à escuta... – “Que era?” – Da veiga, efetivamente, um coro de vozes ascendia... Eram raparigas a cantar, talvez nalgum lavadouro, lá baixo, ou nalguma apanha.

– Escuta...

Por vir de longe, por ascender não se sabia donde, e chegar ali quase diluído, o coro das vozes parecia de almas, emanado do seio da luz...

– Não se vê... Escuta...

– Ó rapazes! Parece mesmo a terra a cantar!

Este bocadinho de sobrenatural acabou de comover o destacamento, – que se quedou ali como encantado; e foi preciso que o oficial, que à frente continuava a cavalo, chamasse de longe pelos rapazes, para de novo se porem todos em marcha – atentos, ainda assim, ao coro que prosseguia...

Agora, parecia já adivinharem-lhe a letra:

– Escuta...

O meu coração é terra,
Hei de mandá-lo lavrar...

Sorriam-se, fitando o ouvido...

“P’ra semear os desejos
Que tenho de te falar...”

***

Mas pouco adiante, um grande souto fazia sombra para dez regimentos, e o oficial mandou fazer alto e descansar. Esperou-se um bocado pelos retardatários, ou por algum que vinha cansado; mas quando se pensava estarem já todos, verificou-se que faltavam dois.

A não se ter dado algum acidente, era já tempo de estarem ali; e porque os tinham visto havia ainda pouco, entre os demais que escutavam o coro – o próprio oficial foi à cata deles, esporeando o cavalo ronceiro.

Momentos depois, entretanto, o alferes regressava a passo. E perante o destacamento formado, em que cada soldado parecia uma estátua, arremessou ao chão duas espingardas, e após as espingardas duas mochilas – que fizeram, caindo, o baque dos corpos mortos...

…Como um hino da Terra, trazido na asa da aragem, chegava agora até ali, mais vivo, o coro das raparigas...

O meu coração é terra,
Hei de mandá-lo lavrar.
P’ra semear os desejos
Que tenho de te falar...


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Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)

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