![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmabQyiYIdcEOOPFA_4GpvGNcO8rwpGTmv94XVPvKB2gCiSgYUyCIOA3QnUV31oiwm1jR6-uzksG4ZoQ_-wI38LxF6UYkDL32NGecoTvmEE-1WS3Js5_4FYSmQkx4C8A1A2jvin48Cx4YC/s1600/taja-brito.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHU29Vk21redKpn5uZ8uYhXMbmceU_pBZjBKV8hTcTOCbCJRvnh0lumg-s8dW1ocn0mmpj1Xf3JZgs3AIbTv3hpg82zH3gfmx4Wbca5ulFOZyUDblxin81Nw51CNRs4Umi9j566XPoHFd1/s200/Brito+Camacho+Defini%25C3%25A7%25C3%25A3o+de+conto.jpg)
Amor
de velhos
Sua
Majestade, o Rei Leopoldo,
da Bélgica, esteve ontem em Paris,
incógnito, e com pouca demora.
da Bélgica, esteve ontem em Paris,
incógnito, e com pouca demora.
(Dos jornais)
—
Bonjour, petite chatte...
—
Bonjour, petit chien...
E
era uma cena doida de beijos, ele muito alto, muito magro, agarrando a pela
cintura, como um avaro segurando o seu tesouro, e ela deitando-lhe os braços ao
pescoço, os cabelos douro caindo-lhe pelas costas, e os lábios muito vermelhos,
alongando-se numa momice, sussurrando umas palavras doces, que ele adivinhava
mas não ouvia.
—
Petite chate!...
—
Petit chien!...
Pela
Avenida, cruzando-se em todas as direções, milhares de carruagens
passam, e em muitas delas vão as damas do grande mundo, ao lado dos amantes e
dos maridos, envolvidas em peles caras, ricas de joias ou ricas de beleza,
frutos de carne amadurecidos no ar daquela enorme estufa, propicia à florescência
dos mais belos vícios. Paris é lindo quando o inverno é áspero, e um grande
lençol de neve, esburacado pelas torres e chaminés, se estende por sobre a
cidade, cobrindo-a de um extremo a outro.
—
Minha adorada Cléo!
—
Meu adorado Leopoldo!
E
assim ficavam horas e horas, à janela, por detrás dos vidros cerrados, ele
agarrando-a pela cintura, ela estendendo-lhe os braços ao pescoço, muito
chegados, muito unidos, vendo as carruagens que passavam, cruzando-se em todas
as direções na imensa e linda Avenida. Ao cabo, muito aconchegados, muito
unidos, deixavam-se cair no sofá, junto à janela, ela a estender os lábios
vermelhos numa momice de criança dócil, e ele a adorá-la, num culto de devoção
ardente.
—
Petite chate!...
—
Petit chien!...
E
quando o sol se escondia, por trás do Monte Valeriano, descia ele a escada daquele
entressol luxuoso, limpando os bigodes brancos, muito alto, muito magro,
rei mais que todos reinadio, e ia ela encostar-se à janela, de vidros cerrados,
os cabelos de ouro caindo-lhe pelas costas, os lábios já sem cor retraindo-se
sem graça, a ver os últimos carros que passam pela Avenida, cruzando-se em
todas as direções.
---
Pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...