9/29/2019

Monteiro Lobato: aspectos biográficos


Monteiro Lobato: aspectos biográficos

José Bento de Monteiro nasceu na cidade de Lorena, em 1882, Estado de São Paulo, onde fez o curso primário, após o qual transferiu-se com a família para a capital do Estado, ali fazendo o curso de humanidades. Fez o curso Jurídico na Faculdade de Direito de São Paulo, diplomando-se em 1906. Em seguida à formatura foi nomeado Promotor Público da comarca de Areia, no interior paulista; mas, por pouco tempo, pois, adquirindo uma propriedade rural, em Buquira, na Serra da Mantiqueira, ali se instalara, e onde escreveria os contos depois reunidos no seu livro "Urupês" (1918). Em 1943, em todo o Brasil, foram prestadas excepcionais homenagens ao escritor, comemorando-se o 25º aniversário do lançamento deste livro. Essas comemorações culminaram com a publicação de um volume, "Urupês, outros contos e coisas" onde aparecem aquele livro e a maioria dos seus contos, e excertos de quase todos seus demais livros.

Também a vida de fazendeiro não haveria de seduzi-lo por muito tempo. Sete anos depois, desfaz-se da propriedade e transfere-se para a cidade de São Paulo, onde adquiriu a "Revista do Brasil", que passou a dirigir. Nela lançou seus primeiros contos e crônicas.

Cabe-lhe haver incorporado ao patrimônio do nosso folclore a figura de "Jeca Tatu" — o caipira, bondoso, místico e inteligente, analfabeto e sensato: símbolo vivo das raças que entre nós se plasma. Seus livros se sucedem: "Urupês", "Jeca Tatu", "As ideias de Jeca Tatu", "Cidades Mortas", que os edita por conta própria, resultando do êxito por eles alcançado, na sua iniciativa de fundar uma editora "Cia. Gráfico-Editora Monteiro Lobato", à qual deve o Brasil o lançamento de grande número de obras de indiscutível valor literário, incorporado definitivamente ao patrimônio de sua cultura. Com lançamentos estranhos, intercalava novos livros seus: "Negrinha", "Onda Verde", "O macaco que se fez homem" e o romance "O Choque das raças".

Mal sucedido financeiramente nessa empresa, vê-se, afinal, obrigado a dissolvê-la, cabendo, por motivo de sua dissolução, em 1925, a formação de inumeráveis pequenos núcleos editoriais que se disseminaram pelo país, muitos dos quais cresceram, progrediram, como a "Cia. Editora Nacional", por ele erguida dessas ruínas, com Otales Marcondes.

Em 1926, no entanto, era enviado pelo governo brasileiro aos Estados Unidos, como Adido Comercial à nossa Embaixada, fixando sua residência em Nova York, onde permaneceu até 1930.

Suas histórias para crianças — a que deve uma boa parte de sua popularidade como educador e como criador de novos mundos para a juventude brasileira, que o admira e o adora como a um ídolo — que iniciou com "A menina do narizinho arrebitado", multiplicaram-se nas suas horas de folga do cargo diplomático; e de volta ao Brasil continua sua publicação com "Reencarnações do Narizinho" ao tempo que lança outros livros: "América", de impressões dos Estados Unidos; a coletânea de artigos de jornais "Na Antevéspera", "O Mundo da Lua", "Mr. Slang e o Brasil" e "Problema Vital". Desde então sua contribuição para a cultura brasileira intensificou-se no setor da literatura infantil, com os livros "Novas reinações do narizinho", "Viagem ao céu", "Caçadas de Pedrinho", "História do Mundo para crianças", "Emília no País da Gramática", "Geografia de Dona Benta", "O Minotauro" (baseado na história antiga), "O Picapau amarelo", "O espanto das gentes", "Reformas da Natureza", "O Poço do Visconde", "O Hans Staden", "Peter Pan", "Aritmética de Emília", "História das Invenções", "Dom Quixote para crianças", "Memórias de Emília", "Serões de Dona Benta", "Histórias da Tia Nastácia", "A Chave do Tamanho" e "Fábulas", todos eles com edições consecutivas. Posteriormente, foram reunidos vários contos seus nos volumes "Contos Leves" e "Contos Pesados".

Seu temperamento inquieto leva-o a saltar de atividade em atividade sempre imprimindo nesse interesse um cunho de sua vigorosa personalidade. Dedica-se ao ferro e ao petróleo, trazendo neste setor, valiosa contribuição para o conhecimento de sua industrialização no Brasil, com os volumes "Ferro" e "O escândalo do Petróleo ", neste, em que denuncia a ação criminosa de grupos interessados em protelar sua exploração entre nós. Sua obra geral, não incluindo suas traduções, já atingiram um quociente de tiragem jamais aproximado por outro qualquer escritor nacional, numa demonstração evidente da admiração que lhe votam seus contemporâneos, sendo que sua personalidade se impôs mesmo no exterior, onde vários trabalhos seus já foram vertidos para o inglês, espanhol, francês, italiano e alemão.

Em 1927 era eleito para a Academia Paulista de Letras, ali ocupando a Cadeira número 32. Na história da cultura brasileira, o seu nome tem lugar de absoluto destaque, conquistando por méritos excepcionais de inteligência, ação, cultura, estilo e vigor imaginativo, além do equilíbrio dos conceitos emitidos sobre os assuntos a que se tem dedicado.

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D' A. V
Revista "Letras Brasileiras", março de 1944.
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2019)

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