Guerra com o Paraguai
O
domínio jesuíta no Paraguai fora memorável experiência, de coesão obediente.
Separado de Espanha em 1813, o ditador Francia governa com autoridade; morto em
40, Carlos Antônio Lopez é o novo ditador, até 62, preparado o filho, na
Europa, para a sucessão. É Francisco Solano López, que tomou parte na guerra de
Rosas, tem grandes bens e sonha uma glória “napoleônica”. Desde 50 o Brasil
trata, com a república, livre navegação no Rio Paraguai (nosso acesso a Mato
Grosso), que Carlos Antônio López dificulta. No Uruguai, o Presidente Aguirre
maltrata a Brasileiros do território neutro: o Governo Imperial protesta e
depois da missão diplomática Saraiva, manda Mena Barreto, por terra, com 4.000
homens, e por mar, diante de Montevidéu, o vice-almirante Marques de Sousa,
depois Marquês de Tamandaré, exigindo, por ultimatum, cessação dos
vexames. Aguirre devolve o ultimatum e os imperiais
violam a fronteira, enquanto a frota exercerá represália às violências. Aguirre
invoca Solano López, que declara não assistirá impassível à invasão do Uruguai
pelos Brasileiros.
Aguirre,
exasperado, comete atos de violência contra o Brasil: os Brasileiros invasores,
reunidos aos insurrectos Uruguaios, que comanda Venâncio Flores, conseguem as
vitórias de Salto e Paissandu. Montevidéu é bloqueada, por terra e mar (65);
Aguirre foge para Buenos Aires e outros dos seus parciais refugiam-se no
Paraguai. Flores assume o poder, no Uruguai. O vapor brasileiro Marquês de
Olinda, que levava
para Mato Grosso o presidente Carneiro de Campos, é aprisionado à passagem em
Assunção, e ele encarcerado cruelmente (11 de novembro de 64), vindo a morrer,
atormentado, em 67. É o começo da Guerra do Paraguai. Ao mando do General
Barrios 6.000 homens tomam Nova Coimbra, Albuquerque, Corumbá, Miranda, Nioac e
Dourados, ao sul de Mato Grosso.
O
Peru, a Bolívia e o Chile declaram-se neutros. Para atingir o Paraguai
precisamos do Uruguai e da Argentina, no caminho. Tanto o Brasil como o
Paraguai pedem licença à Argentina, para passagem de tropas no seu território,
o que é recusado. Mas López invade Corrientes, captura dois navios argentinos e
ocupa a margem esquerda do Paraná. Trata-se, então, em Buenos Aires, a Tríplice
Aliança, (1 de maio de 65) pela qual a Argentina, o Brasil, o Uruguai, unidos,
marchariam contra o Paraguai: o general em chefe será o presidente da
Confederação Argentina, enquanto as operações, de nosso lado, tivessem base
nesse país; o almirante Tamandaré seria o comandante da esquadra; as despesas
seriam dos três governos; a guerra não cessaria senão mudando o governo do
inimigo. O Brasil daria o contingente de 45.000 homens; 25.000 os Argentinos,
nunca realizados; os Uruguaios eram apenas 1.600. López tinha um exército
aguerrido e municiado, de 80.000 homens. Por isso a guerra nos vem a custar
cerca de 100.000 homens, durante cinco anos, e 500.000 contos. Os sucessos, até
o termo, merecem relevo.
A
11 de junho de 65, na foz do Riachuelo, afluente do Rio Paraná, perto de
Corrientes, oito navios paraguaios, rebocando seis baterias flutuantes,
desceram a corrente a todo vapor, passaram pela esquadra brasileira, viraram de
direção e romperam o fogo. Com oito navios, o chefe de divisão Francisco Manuel
Barroso, depois Barão do Amazonas, nascido em Lisboa, enfrenta-os, e inaugura
nova tática de ataque, acometendo com o esporão do seu navio, a fragata
“Amazonas”, ao inimigo, ato de grande sucesso náutico, perdendo os Paraguaios
quatro vapores, seis baterias flutuantes e mais de mil homens: nós apenas
perdemos a corveta “Jequitinhonha”, encalhada no começo da refrega. São heróis
nossos Pedro Afonso, Greenhalgh e Marcílio Dias.
Contra
os Uruguaios entra López, com 12.000 homens, ao mando de Estigarribia e Duarte,
que saqueiam São Borja, repelindo Mena Barreto. Flores e Paunero batem Duarte e
cercam Estigarribia em Uruguaiana, cortando-lhe a retirada para o Paraguai.
Estigarribia e suas tropas entregam-se ao Imperador do Brasil, que, com os
genros Conde d’Eu e Duque de Saxe, haviam acorrido ao teatro da guerra (17 de
Setembro de 65): é a rendição de Uruguaiana. Por solicitação dos Estados Unidos
— a princípio simpáticos aos Paraguaios — o Peru, o Chile, a França e a
Inglaterra propõem um termo à guerra, que o Brasil recusa.
Os
aliados tomam Corrientes, onde estabelecem base de operações, hospitais,
depósitos de munições. Atravessam o Paraná em Passo da Pátria, defronte do
forte de Itapiru, que é tomado por forças de Osório e frota de Tamandaré,
depois de duro combate, a 25 de abril de 66. A 24 de maio é o triunfo de Osório em
Tuiuti. Porto Alegre toma, com 9 mil homens, Curuzu. Curupaiti é um completo
revés. José Joaquim Inácio substitui Tamandaré, Caxias é o comandante dos
Brasileiros, e, por ausência de Mitre, chamado a jugular a revolta de um dos
Estados da Confederação, o chefe dos aliados. Contorna então as linhas fortes
de Rojas e avança, por um rodeio de nove léguas, até a margem esquerda do rio
Paraguai, impedindo as comunicações do inimigo com a sua capital. Caxias
concentra-se em Tuiuti.
O
presidente Couto de Magalhães consegue, com os próprios recursos, libertar a
sua província de Mato Grosso. A 15 de agosto de 67 a esquadra subia até
Humaitá, infranqueável. Os Paraguaios atacam com 9 mil homens, sendo rechaçados
pelos nossos, em Tuiuti. Caxias é de novo chefe dos aliados, reclamado Mitre ao
sul, onde assassinam Flores, em Montevidéu. Os navios brasileiros, comandados
pelo capitão de mar e guerra Delfim Carlos de Carvalho, a 19 de fevereiro de
68, conseguem, corajosamente, franquear a passagem de Humaitá; nesse ato
distinguiram-se Jaceguay, Maurity e Custódio de Melo, tomando os nossos o forte
do Timbó.
A
22 de março desse ano, o general Argolo toma as linhas de Rojas. Ocupou-se
Curupaiti e Osório ataca a fortaleza de Humaitá, retirando-se o inimigo pelo
Chaco e entregando-se sem mercê. Caxias segue contra Assunção (26 de agosto de
68), chega ao Tebiquari, sofrendo dos representantes de Inglaterra e dos
Estados Unidos violação do bloqueio. Contorna Angostura, acomete os Paraguaios
pela retaguarda, vence na Ponte de Itororó, toma Villeta. Mena Barreto toma
Piquisiri e Caxias Lomas-Valentinas, fato que determina a rendição de Angostura
(30 dezembro de 68). Distinguem-se nesses sucessos Mena Barreto, Andrade Neves,
Argolo Ferrão, Antunes Gurjão, Correia da Câmara, Uibúrcio de Sousa. A marcha
termina em Assunção (3-5 Janeiro de 69), abandonada; Silva Paranhos instala um
governo provisório na Capital do Paraguai, a 15 de agosto de 69. Segue-se a
perseguição a López, fugitivo.
Como
a guerra se prolongasse e a impaciência pública fosse grande pela terminação
dela, o Imperador nomeia general em chefe ao Príncipe Gastão de Orleans, conde
d’Eu, que, estudado no terreno um novo plano de campanha, empreende a
perseguição dos Paraguaios fiéis ao ditador. Vence em Peribebuí, em Caraguateí,
em Campo Grande; López refugia-se nas montanhas. Mandado no seu encalço o
General Correia da Câmara, depois Visconde de Pelotas, alcança-o em Cerro Corá,
na margem esquerda do Aquidaban, afluente do Paraguai, a 1º de março de 70:
recusando entregar-se, é morto pelo soldado Chico “o Diabo”.
Dessa
campanha, — em que fomos provocados e tivemos de suportar a aliança,
topograficamente indispensável, de Argentinos e Uruguaios, operamos atos de
bravura, sofremos privações e epidemias, gastamos meio milhão de contos,
derramados no Prata, sem compensação econômica nacional, e sacrificamos uma
centena de milhar de brasileiros, voluntários a maior parte, recrutados às
vezes, — não há motivo de jactância, mas há a satisfação do benefício
produzido: libertamos o Paraguai e a América do Sul de um tirano, que armara os
seus Guaranis contra a civilização: pensavam, fanatizados, os que morriam em
campanha, ressuscitar em Assunção.
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