Independência
No
Brasil, com Dom João VI, o governo antecipa os reclamos do tempo e da opinião;
no Reino o governo que avançara muito, intenta retroceder e repor, no que eram,
as coisas, antes de Dom João VI. Procede-se à eleição dos deputados brasileiros
à Constituinte Portuguesa, mas as Cortes não os esperam, e promulgam uma
Constituição, que devia ser observada no Brasil. A tropa portuguesa, sob o
comando do general Jorge Avilez, sai ao Rossio e reclama o juramento dessa
Constituição, deportado para o reino o ministro Conde dos Arcos. Dom Pedro
anui, fazendo eleger uma junta consultiva de governo.
Mas
as Cortes de Lisboa continuam: os governos das capitanias ficam independentes
do Rio de Janeiro; são supressos a Relação e outros tribunais criados por Dom
João VI; ordena-se ao Príncipe que recolha ao reino, para se educar e viajar.
Em São Paulo, onde os nacionalistas eram mais numerosos e exaltados, José
Bonifácio de Andrada e Silva, sábio de educação europeia, reconhecido à
metrópole que o honrara, mas convencido da obrigação
em que está todo Portugal, com sua filha emancipada, a que precisa pôr casa,
repartindo com ela luzes, conselhos, instruções, e informado da próxima
retirada do Príncipe, convoca, às onze horas da noite, uma reunião da Junta
Provincial, e consegue assinar uma representação a Sua Alteza: a sua partida
seria o sinal de separação do Brasil. Como
agora esses Deputados de Portugal, sem esperarem pelos do Brasil, ousam já
legislar sobre os interesses mais sagrados de cada Província e de um Reino
inteiro? Como ousam roubar a Vossa Alteza Real a lugar-tenência que seu Augusto
Pai, nosso Rei, lhe concebera? Como querem despojar o Brasil do Desembargo do
Paço e Mesa da Consciência e Ordens, conselho de Fazenda, Junta do Comércio,
Casa de Suplicação e de tantos outros estabelecimentos novos, que já prometiam
futuras prosperidades? Para onde recorrerão os povos desgraçados a bem de seus
interesses econômicos e judiciais? Irão agora, depois de acostumados por doze
anos a recursos prontos, sofrer, outra vez, como vis colonos, as delongas e as
trapaças dos tribunais de Lisboa, através de duas mil léguas do oceano, onde os
suspiros dos vexados perdiam o alento e esperança? Quem o crerá, depois de
tantas palavras meigas, mas dolosas, de recíproca igualdade e de felicidades
futuras!!
Enviada
a mensagem, preparou-se José Bonifácio para seguir, reforçando pessoalmente os
argumentos. Movimento semelhante se manifestara em Minas. Conhecendo os habitantes do Rio de Janeiro o que se passava naquelas
províncias, dirigiram-se a Câmara Municipal da Capital com o seu representante,
e com mais de oito mil assinaturas requereram que se representasse a Dom Pedro,
contra a execução dos decretos das Cortes (John Armitage, História do
Brasil, 1837). O
manifesto fora escrito por Fr. Francisco de Sampaio e levado ao Príncipe por
José Clemente Pereira, português de nascimento, a 9 de Janeiro de 22. O povo
acorrera à Câmara Municipal. Dom Pedro ponderou e concluiu: Como é para bem de todos e felicidade geral
da nação, diga ao povo que fico.
A
representação de São Paulo é de 24 de dezembro; a do Rio de 29; o “fico”,
apenas solenidade pública de resposta, foi a 9 de Janeiro de 22. Mas, já a 2 de
janeiro, escrevia o Príncipe ao Pai: Ontem,
pelas 8 horas da noite, chegou de São Paulo um próprio, com ordem de me
entregar em mão própria o ofício que ora remeto incluso, para que V. M. conheça
e faça conhecer ao Soberano Congresso quais são as firmes tenções dos
Paulistas, e por elas conhecer quais são as gerais do Brasil. Ouço dizer que as
representações desta Província (Rio de Janeiro) serão feitas no dia 9 do
corrente; dizem mais que São Paulo escreveu para Minas: daqui sei que há quem
tem escrito para todas as Províncias, e dizem que tudo se há de fazer debaixo
de ordem. Em carta, datada de 9, o Príncipe conta que às 10 horas da manhã
as Câmaras reunidas, nova e velha, lhe pediram audiência e as ouviu: Veio o Senado (da Câmara)..., fez uma fala
muito respeitosa... e em suma era, que logo desamparasse o Brasil, ele se
tornaria independente: e ficando eu, ele persistiria unido a Portugal. Eu
respondi o seguinte: Como é para bem de todos e felicidade geral da Nação, estou
pronto: diga ao Povo que fico.
Nomeou
Dom Pedro a José Bonifácio ministro dos Negócios do Reino e Estrangeiros. O seu grande saber, o seu gênio intrépido, o
seu caráter pertinaz, que quase chegava a raiar em defeito, contribuíram a
fixar a volubilidade do príncipe. E o conhecimento especial, que a estadia de
tantos anos em Portugal lhe dera desse País, dos seus recursos, do forte e
fraco dos seus habitantes e especialmente dos que dirigiram a política de 1821
e 1822, a
este respeito principalmente, nenhum outro brasileiro de então lhe levava a
palma (Varnhagen — História da
Independência, 1917).
Os atos do ministro seguiram a direção dos do patriota: foi restabelecida a
centralização das províncias que as Cortes tentaram separar; convocado um
conselho de seus representantes para instruir e representar ao Príncipe sobre
todos os negócios de importância: Rio de Janeiro, Minas, São Paulo e Rio Grande
uniram-se logo nesse desígnio, salvador da integridade nacional; a Bahia teria
de ser defendida contra a reação portuguesa; Pernambuco também dividido por
dissensões, viria a aderir ao movimento, graças à eficácia dos esforços de
Vasconcelos de Drummond, amigo de José Bonifácio.
Nesse
mesmo mês de fevereiro, em que foram convocados os representantes das
províncias, outro decreto submete, à aprovação do Príncipe Regente, as leis
portuguesas referentes ao Brasil, início de soberania. Conformação tácita dessa
conquista é a Convocação, a 3 de junho, da Assembleia Geral Constituinte
Legislativa, ato íntimo de independência ou autonomia, do qual o de 6 de agosto,
convidando as nações estrangeiras a entrarem em relações com o Brasil, é a
proclamação internacional. José Bonifácio dá ordem aos nossos agentes
diplomáticos no Prata para a tentativa, e tentava, com Rivadávia, a criação de
uma liga ofensiva e defensiva, que opusesse justa
e firme repulsão contra as imperiosas pretensões da Europa: é a “América
dos Americanos”, antes de Monroe.“ O Príncipe, que em Minas havia escutado os
votos do Brasil, parte para São Paulo a 14 de agosto, e, diz Varnhagen: ...quase resolvido a declarar a
independência, segundo se vê da seguinte circular passada por José Bonifácio,
nesse dia, ao corpo diplomático, comunicando-lhe o manifesto: Tendo o Brasil,
que se considera tão livre como o Reino de Portugal, sacudido o julgo de
sujeição e inferioridade com que o reino irmão o pretendia escravizar, e
passando a proclamar solenemente a sua independência...
Essa
“resolução”, a que chegara o Príncipe, a despeito dos seus protestos e juras de
fidelidade ao Pai e à Nação Portuguesa, foi movida e promovida por José
Bonifácio, que encarnava o sentimento público: havia porém necessidade de um
ato, a “proclamação solene” da Independência; foi o que se deu nas margens do
Ipiranga. Dom Pedro estava pronto e preparado para ela, como se preparara para
o “Fico”, mas a hora soou, às 4:30 da tarde de sábado, 7 de Setembro de 22, com
a exclamação: — “Independência ou morte!”, depois de receber o seu correio,
despachado com urgência do Rio de Janeiro, por José Bonifácio. Ao correio,
Pedro Bregaro, dissera o ministro, segundo informa Drummond: se não arrebentar uma dúzia de cavalos no
caminho, nunca mais será correio. Não
cremos — diz Varnhagen — que o
conteúdo desta carta, (a que trouxe o correio), entrasse por parte na resolução
do príncipe (de declarar a Independência) que já, independente dela, viria
preparada do Rio de Janeiro. O correio trouxera as últimas notícias de
Lisboa (até 3 de Julho), chegadas ao Rio a 28 de agosto, nas quais o Governo
Português tomara disposições, anulava atos do Príncipe, nomeadamente a
convocação dos representantes das províncias a 16 de fevereiro,
responsabilizava o Ministério do Rio e os membros da Junta de São Paulo,
signatários da representação de 24 de dezembro, numa palavra, atingia a Dom
Pedro, chamado depreciativamente lá “o rapazinho”, e principalmente, a José
Bonifácio. Em vez da carta do Pai, uma de Antônio Carlos (irmão de José
Bonifácio, então nas Cortes) na qual lhe dava conta: não poupavam a real pessoa de V. A. R., de envolta com ataques ao
Brasil. O horizonte nada promete... O augusto pai de V. A. R. é um perfeito
escravo de um ministério vendido ao partido desorganizador das cortes...
Varnhagen pondera: Provavelmente José
Bonifácio escreveria alguma carta, insistindo acerca da necessidade de romper,
de uma vez, o véu, e proclamar a independência. A verdade é que, antes de
poderem chegar ao Rio as resoluções do Príncipe tomadas em São Paulo, já a
proclamação da mesma independência se resolvia também no Rio de Janeiro, no
Grande Oriente, de que José Bonifácio era Grã-mestre, em sessão de 9 de
Setembro (Varnhagen).
Tornado
ao Rio, ostenta o Príncipe, no teatro, o dístico no braço esquerdo:
“Independência ou Morte”. O Senado da Câmara marcou o dia 12 de outubro, aniversário
do Príncipe, a data do descobrimento da América, para a aclamação do “Imperador
Constitucional do Brasil”. A coroação será a 1º de dezembro. Na Bahia, resistia
o general português Pinto Madeira. Sitiada a cidade, por mar, por Lord
Cochrane, e por terra por tropas do mando do General Labatut, foram vários
recontros favoráveis aos nossos. O Coronel José Joaquim de Lima e Silva, a quem
a Junta Governativa de Cachoeira dera o comando, apertou o cerco e as tropas de
Madeira embarcaram rumo de Lisboa, entrando os patriotas na cidade, a 2 de
julho de 23. Lord Cochrane, que deixara sair os portugueses, perseguiu-os,
fazendo algumas presas. Partiu para o Maranhão, onde, a 27 de julho, tomou
navios e fez embarcar tropas para Portugal. Seu lugar-tenente, o Capitão Pascoe
Grenfell, foi a Belém do Pará, onde teve sucesso fácil, prendendo 256 pessoas
no porão do brigue Palhaço, fechadas as
escotilhas: dos presos apenas se salvaram 4, da horrorosa asfixia. Dom Álvaro de
Sousa Macedo, que resistira em Montevidéu 17 meses, ao cerco do general Lecor,
capitulou a essas notícias, e embarcou com as tropas fiéis para Portugal. A
independência era um fato consumado.
A
Assembleia Constituinte, convocada em junho de 22, reuniu solenemente a 3 de
maio de 23, aberta pelo Imperador, que lera a “fala do trono”. José Bonifácio
abandonara o poder e, com partidários, fundara o Tamoio e a Sentinela, jornais de
oposição. Diz Armitage: quando revestidos
do poder (os Andradas) foram
arbitrários, e quando decaídos tornaram-se facciosos. A Assembleia rejeitou
projeto ultraliberal de um deles (Antônio Carlos). Com a agitação partidária,
Dom Pedro mudou o Ministério, dissolveu a Constituinte (26 de novembro),
prometendo convocar outra e deportou para França os Andradas e alguns de seus
amigos. Chegara de Portugal a fragata Voadora, com carta de
Dom João VI para o filho: os portadores não foram recebidos, devolveu-se a
carta, confiscou-se o navio. O Brasil era soberano. Dom Pedro deu-nos então,
outorgada, uma Constituição, redigida por dez membros de uma comissão, e que
foi proclamada, a 25 de março de 24.
Em
Pernambuco é a “Confederação do Equador” proclamada a 24 de junho de 24: contra
ela têm razão o Coronel Lima e Silva e Lord Cochrane, que põem sítios e os
republicanos são batidos em Olinda, Couro de Anta, Agreste e Engenho do Juízo,
fugindo o chefe insurrecto Pais de Andrade. As províncias que aderiram:
Paraíba, Rio Grande, Ceará, foram logo pacificadas. Com isso os vencedores
julgaram sumariamente os cabecilhas, ao todo 17 vítimas, à frente, no Rio, João
Guilherme Radcliff, português de nascimento e Frei Joaquim do Amor Divino
Caneca, perdoados os outros, passíveis de clemência imperial. No Maranhão, Lord
Cochrane, que ajudara no mar a luta da Independência, dando por finda sua
missão, retirou-se à Europa, escrevendo suas memórias publicadas em 1859: Naval services
in Chile, Peru and Brasil. Na Bahia, num
levante do batalhão dos Periquitos, (assim chamados pelas cores verde e amarela
que tinham nos canhões dos punhos) foi assassinado o coronel Felisberto Gomes
Caldeira, comandante das armas. As rebeldias nunca são singulares.
Contudo,
a Independência, embora as opiniões opostas de Espanha, França, Prússia e
Rússia, que aconselhavam Portugal à resistência, — reconhecida pelos Estados
Unidos e pela Inglaterra, acabou por ser atendida por Portugal, que ouviu a
Lord Canning: o Embaixador inglês que se achava em Lisboa, de partida para o
Brasil, Sir Charles Stuart, teve poderes para negociar o reconhecimento do
Império, pela antiga Metrópole. Resultou o Tratado de 29 de agosto de 25, que
isso conseguia, (todavia com dois imperadores, um efetivo, Dom Pedro I, e um
titular, Dom João VI), comprometendo-se ao pagamento de um empréstimo que
contraíra Portugal, em Londres, de dois milhões de libras esterlinas, sem
quaisquer outras reclamações, exceto o transporte de tropas.
No
sul, a 19 de abril de 25, proclama-se a independência da Banda Oriental do
Uruguai. Derrotados os nossos em Mercedes e Sarandi, declaram os vencedores a
Banda Oriental incorporada às Províncias Unidas do Prata. A esquadra
brasileira, sob o comando de Pinto Guedes, que bloqueava os portos argentinos,
bateu a flotilha do capitão George Brown. A Colônia do Sacramento resiste a
vários ataques. O Imperador, que acorrera ao sul, foi obrigado a tornar ao Rio,
pela morte da Imperatriz D. Leopoldina. A 20 de fevereiro de 27, em Passo do
Rosário (Ituzaingo), trava-se batalha, entre Argentinos sob o mando de D.
Carlos de Alvear, e Brasileiros, comandados por Felisberto Caldeira Brant,
depois Marquês de Barbacena, perdida por ambos porque um
recua e o outro não persegue, o campo sem
vencedor com as suas vantagens; depois, as duas partes se proclamaram tais,
com os respectivos troféus, como é fácil. A
consequência real do fato é que, disputada por dois pretendentes, a Banda
Oriental do Uruguai é declarada independente pelo Tratado de 27 de agosto de
28, constituindo a nova nação da República do Uruguai, tendo por capital
Montevidéu, evacuada a 24 de abril de 1830. Brasil independente, mas diminuído.
Em
26 morrera Dom João VI, que confirmara a sucessão portuguesa em seu filho
preferido, Dom Pedro. Imperador do Brasil, (nota do Duque de Palmela a Canning,
em 7 de dezembro de 25). Resolveu este abdicar da Coroa de Portugal, na pessoa
de sua filha D. Maria da Glória, portanto D. Maria II. Pensava em casá-la com o
irmão, Dom Miguel, que, entretanto, dissolveu a Câmara dos Deputados, convocou
as Cortes, que o proclamaram rei absoluto, em 28. D. Maria da Glória levada à
Inglaterra, para daí ir à Áustria, confiada ao avô, Francisco I, tornou ao
Brasil com D. Amélia de Leuchtemberg, que seria 2ª imperatriz do Brasil, em 29.
Foi criada a Ordem da Rosa, civil e militar para comemorar as núpcias
imperiais.
Tratados
de comércio, com as nações da Europa e América em 26, 27, 28. Lei de 23
revigorara as leis portuguesas em exercício no Brasil. Em 28 abole-se a Mesa da
Consciência e o Desembargo do Paço, mas institui-se o Supremo Tribunal de
Justiça. Tropas estrangeiras, irlandesas e alemãs sublevam-se e, depois de
combate, rendem-se, sendo repatriadas e dispersas (28). O almirante Roussin
entra no Rio, ameaçando bombardear a cidade, se lhe não dessem satisfação de
navios aprisionados no bloqueio do Rio da Prata: foram entregues os navios e
prometida a indenização (28). Tumultos na Bahia, assassínio do Presidente da
Província, Visconde de Camamu, e revolta popular em Pernambuco, com
arrombamento de prisões. Em 29 criaram-se os cursos jurídicos de São Paulo e
Olinda. Em 30 foi publicado o Código Criminal.
O
Imperador não continuara o Príncipe Regente: desfizera-se dos patriotas
brasileiros no governo, e cercara-se de camarilha sem responsabilidade, — como
o “Chalaça”, um fuão Francisco Gomes da Silva, — desmandado em amores mais ou
menos públicos. Como reação, acusaram-no de preferir os reinóis subsistentes,
aos nacionais, que o aclamaram. A roupa nova do regime parlamentar não se acomodava
bem, nem ao Imperador, que queria reinar, nem às Câmaras que pretendiam
governar, sem respeito. Se as províncias recuadas conservavam o governo
antiquado, os centros de eficiência, como Recife, Bahia, Rio, São Paulo,
raiavam pela licença. Armitage condena à execração um Costa Barros, presidente
do Maranhão, que chegou até a abrir
cartas particulares e afirmava a impossibilidade de cumprir, na sua
província, a Constituição. A imitação, do que sucedia em França a Carlos X, era
propícia. Na noite das
garrafadas, houve
distúrbios, entre facções pró e contra o ministro Silva Maia, a ser reeleito,
do agrado do Imperador e do partido português. A um Te-Deum, na igreja de
São Francisco de Paula, pelo aniversário do juramento da Constituição, a 25 de
março, acorre Dom Pedro, sem ser esperado e sem convite, acolhido aos vivas, enquanto
constitucional. Fui, sou e serei sempre constitucional. Aos vivas a Dom Pedro II, responde: ainda é muito
criança. A 5 de abril demite
todo o Ministério, nomeando outro, escolhido fora da Assembleia, da facção
áulica. O povo reúne-se no Campo da Aclamação, exaltado à resposta do pedido
que fizera a Sua Majestade, para demitir o Ministério: Estou pronto a
fazer tudo para o povo, nada porém pelo povo.
Os
ânimos estão tensos e preveem-se recontros sangrentos entre partidários do
Príncipe e dos Políticos: estes (os chefes) já arrumam as malas, prontos à fuga
para Minas, quando o Imperador, por seu lado, entrega ao major Miguel de Frias
a declaração de que abdicara na pessoa do filho, nomeando José Bonifácio tutor
dos príncipes, que deixava no Rio: foi isto a 7 de abril de 31. Recolheu-se à
nau inglesa Warspite acompanhado da
Imperatriz, D. Maria II, parentes e fidalgos. O Povo pretendendo depor o
Ministério, apeara o 1º Imperador; ao 2º vai acontecer o mesmo, e será a morte
do regime.
Quanto
ao julgamento de D. Pedro I, neto de uma louca, mal educado por mãe
descomposta, num tempo de rebeldia, epiléptico e impulsivo, extremado e
contraditório, será este de contemporâneo e estrangeiro: Apesar de todos os erros do Imperador, o Brasil, durante os dez anos de
sua administração, fez certamente mais progressos de inteligência de que nos
três séculos decorridos desde a sua descoberta até a proclamação da
Constituição Portuguesa em 1820 (Armitage).
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