5/20/2020

A brasilidade de Fagundes Varela (Resenha)



A brasilidade de Fagundes Varela

A vida de Fagundes Varela foi talvez a mais tormentosa entre as dos poetas da sua geração. Como se já lhe não bastasse um fundo "ingênito de tristeza, a hora em que veio ao mundo, foi a mais propícia à intensificação desse sentimento". Essa era a hora do romantismo, que agitou na juventude brasileira, como nas outras, o mesmo inconformismo com as realidades pungentes da vida.

Tenho como fato certo a predestinação desse poeta, mas a época em que aflorou o seu espírito muito concorreu para à nota de constante melancolia do seu plectro, se bem que este fosse como foi, suscetível a todas as vibrações. Tudo nele é música. Tudo nos seus versos corre em harmonia com as imagens do mundo sensível, ou com as ideias que descortina, ou com as emoções que instrumenta. E essa musicalidade é que lhe imprime à estrofe tanta despreocupação de outros efeitos meramente ornamentais. Se tal espontaneidade facilitou a esse maravilhoso orquestrador de ritmos, a censura de menos cuidoso na plasticidade verbal, deu-lhe, em compensação, a coroa indisputável de grande prestígio nas salas de recitações e nas tunas românticas dos trovadores noturnos. Ele teve essa imortalidade lá de fora. Teve a consagração popular das cordas das serenatas, de norte a sul do Brasil, e eterno, viverá na alma do povo, que não deixa morrer os legítimos intérpretes e definidores dos sentimentos e segredos do coração humano.

Neste momento de renovação de valores, e volta ao primitivismo dos instintos estéticos, nenhum poeta das gerações precedentes é mais atual do que o dos Cantos Meridionais, quer pelo individualismo lírico, quer pela mobilidade rítmica da sua poética. A brasilidade em Fagundes Varela resistiu a todos os convencionalismos literários, clássicos ou românticos, e por isso o seu renome há de crescer à proporção que se for intensificando a consciência nacional. Pouco importa que outros tenham sido mais exímios na estrutura de suas estrofes patrióticas, mas verdade é que nenhuma estrofe saiu de peito brasileiro, mais ardente, nem mais efusiva, que as do cantor do Pendão Auriverde. Diante da Natureza, dos homens e das coisas de nossa terra, a flor aberta desse coração generoso ostenta todo o esplendor e toda riqueza virgem do nosso sangue adolescente.

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ADELMAR TAVARES
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2020)

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