CHAPEUZINHO VERMELHO
Existia na capital de um país
distante, uma meninazinha muito galante, muito linda.
Chamava-se Albertina, mas toda
gente a conhecia por Naná. Sua avó estimava-a imensamente.
Esta boa avozinha, não sabendo mais
o que inventar para alegrá-la, deu-lhe um chapeuzinho de veludo vermelho.
A pequenita ficou satisfeitíssima
com seu novo chapéu, a ponto de não querer usar outro, e, como andasse
constantemente com aquele, quando a viam aproximar-se, tão bonitinha,
chamavam-lhe Chapeuzinho Vermelho.
Sua mãe e avó moravam a meia légua
de distância uma da outra, e entre as duas habitações havia uma floresta.
Uma manhã, a mamãe disse para Naná:
- “Tua avozinha está doente e não
pode vir ver-me. Eu também não posso ir lá. Assim, vai tu levar-lhe um bolo e
uma garrafa de vinho. Toma cuidado: não quebres a garrafa, nem te divirtas em
correr pela floresta. Segue sossegada pelo caminho, e volta depressa.”
- “Sim”, respondeu Chapeuzinho Vermelho. “Obedecê-la-ei,
mamãe.”
Vestiu-se com aventalzinho muito
limpo, colocou a garrafa numa cestinha, e seguiu contente.
Desobedecendo a mãe entrou num
outro caminho para colher flores, quando a pareceu um lobo.
A menina não conhecia os lobos, e
olhou para aquele sem receio algum.
- “Bom dia, pequeno Chapeuzinho Vermelho”, disse o lobo.
- “Bom dia, senhor”, respondeu
Naná, delicadamente.
- “Onde vai tão cedo?”
- “Vou à casa da minha avó, que
está doente.”
- “E leva-lhe alguma coisa?”
- “Sim um bolo e uma garrafa de
vinho que mamãe mandou.”
- “Diga-me, minha interessante
menina: onde mora sua avó? Quero ir vê-la também.”
- “Mora à beira da floresta, não
muito longe daqui. Ao lado da casinha há árvores muito grandes e no jardim
laranjeiras.”
- “Ah! tu é que és uma laranjinha
muito apetitosa”, disse o lobo consigo mesmo, e acrescentou algo:
“Olha que lindas árvores e que
lindos passarinhos! É na verdade um belo divertimento a gente passear na
floresta, onde se encontram tão boas plantas medicinais.”
- “Sem dúvida alguma o senhor é
médico”, replicou Albertina, “pois conhece as plantas medicinais.
Talvez pudesse indicar-me alguma,
que fizessem bem à vovó.”
- “Perfeitamente, minha filha: aqui
tem várias... esta, essas, aquel’outra...”
Mas todas as plantas que o lobo ia
indicando eram venenosas.
A inocente criança, entretanto,
colheu-as para levá-las à sua vovó.
- “Adeus, meu gentil Chapeuzinho Vermelho, estimei muito
encontrar-me com você. Vou deixá-la, pesaroso, pois tenho que ir depressa ver
alguns doentes.”
Assim falando, correu ràpidamente
para a casa da velha, enquanto Naná se divertia colhendo as plantas que ele
indicara.
Chegando à residência da velha
senhora, achou a porta fechada e bateu.
A avó não podendo levantar-se da
cama, falou:
- “Quem bate?”
- “É o pequeno Chapeuzinho Vermelho”, respondeu o lobo, mudando de voz, “mamãe
mandou-lhe um bolo e uma garrafa de vinho.”
- “Entre minha netinha. A chave
está aí em baixo da porta.”
O lobo encaminhou-se para a cama da
doente.
Aí, engoliu-a de uma só vez, e,
vestindo as roupas da velha, esperou deitado no leito.
Um instante depois chegou
Albertina, que ficou admirada por ver a porta escancarada, sabendo o cuidado de
sua avó.
O lobo tinha colocado uma touca na
cabeça; apenas se percebia um pouco da sua cara.
Mas assim mesmo, o que se via era
horroroso.
- “Ah, avozinha”, disse o pequeno Chapeuzinho Vermelho, “para que é que a
senhora tem orelhas tão grandes?”
- “Para melhor te ouvir, minha
neta.”
- “Para que tem braços tão compridos?”
- “Para melhor te abraçar, minha
neta.”
- “Para que tem uma boca tão grande
e dentes tão compridos?”
- “Para te comer...”
Dizendo isso, o lobo avançou para a
desgraçada menina, e engoliu-a.
Achando-se plenamente satisfeito,
adormeceu, e durante o sono ressonava terrivelmente.
Um caçador, passando por acaso
perto da casinha, e ouvindo esse ruído extraordinário, disse:
- “A velhinha está talvez com um
pesadelo. Quem sabe mesmo se não está mal? Vou ver se posso servir para alguma
coisa.”
Entrou e descobriu o lobo estendido
na cama.
- “Olé! Você por aqui! Há quanto
tempo o procuro!”
Armou a espingarda, mas lembrou-se:
- “Não vejo a dona da casa, e bem
pode ser que ele a tenha engolido viva.”
Então, com a sua faca de caça,
abriu habilmente a barriga do lobo.
Apareceu Chapeuzinho Vermelho, que saltou no chão, exclamando:
- “Ah! que lugar terrível em que eu
estava encerrada!”
A avó saiu também, muito satisfeita
por tornar a ver o dia.
A fera continuava a dormir
profundamente.
O caçador meteu-lhe duas pedras na
barriga, e em seguida coseu a pele, ocultando-se depois com a avó e a neta.
Quando o lobo acordou, devorado por
uma sede ardente, dirigiu-se para o tanque.
Enquanto caminhava ouviu as pedras
batendo lá dentro, e ficou pasmado, sem saber o que era.
Chegando ao tanque, arrastado pelo peso
das pedras, afogou-se.
Naná desde esse dia, vendo quanto é
mau uma filha ser desobediente, prometeu nunca mais deixar de seguir as
recomendações de sua mãe, e sempre cumpriu a promessa.
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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2024.
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