3/08/2025

A Capinha Vermelha (de Charles Perrault), por Monteiro Lobato


A CAPINHA VERMELHA

Era uma vez uma menina linda, que morava numa aldeia com sua mãe. Chamava-se Capinha

Vermelha, por causa duma capinha dessa cor que sua avó lhe havia feito.

Um dia a mãe de Capinha fez bolos e lhe disse:

— Vá ver como está passando sua avó, pois me consta que não anda boa; e leve-lhe estes bolos e um pouco de manteiga.

A menina dirigiu-se para a casa da avó, que morava longe, e passando por uma floresta encontrou o compadre lobo. Bem vontade de comê-la teve ele, mas nada fez por causa dos lenhadores que trabalhavam por perto.

A menina, que não sabia como é perigoso parar para conversar com lobos, disse-lhe:

— Vou visitar minha avó e levar-lhe uns bolos e um pouco de manteiga que mamãe manda.

— Sua avó mora longe daqui? Indagou o lobo.

— Oh, sim! Mora lá adiante daquele moinho que se vê daqui, na primeira casa da aldeia.

— Pois vou também visitá-la, disse o lobo. Você segue por um caminho e eu por outro — e veremos quem chega primeiro.

O lobo imediatamente pôs-se a correr pelo caminho mais curto e a menina tomou pelo mais longo, e foi parando para colher frutas do mato e correr atrás das borboletas e fazer raminhos de flores.

Num instante o lobo chegou à casa da velha e bateu: toque, toque, toque.

— Quem bate? Perguntou lá de dentro uma voz.

— É sua neta Capinha Vermelha, respondeu o lobo disfarçando a voz. Venho trazer um bolo e um pouco de manteiga que mamãe manda.

A boa velha, que estava na cama meio adoentada, gritou:

— Vira a taramela e entra.

O lobo virou a taramela, e abriu a porta e entrou e avançou para a velha e a comeu num instante.

Estava com uma fome de três dias. Em seguida fechou a porta e foi deitar-se na cama da velha a fim de esperar pela menina. Não demorou muito e Capinha chegou. Bateu, toque, toque, toque.

— Quem é? Gritou o lobo do fundo da cama.

Capinha assustou-se com aquela voz, mas como a vovó estivesse doente julgou que fosse rouquidão, e respondeu:

— É sua neta, Capinha, que vem trazer uns bolos e manteiga que mamãe manda.

O lobo repetiu para a menina o que lhe havia dito a velha, procurando sempre mudar a voz:

— Vira a taramela e entra.

Capinha virou a taramela e a porta abriu-se e ela entrou. O lobo tapou como pode a horrível cara e de dentro das cobertas disse:

— Põe os bolos e a manteiga no armário e vem conversar comigo.

A menina guardou o presente, tirou a capinha e dirigiu-se para a cama da velha. Ficou logo admirada de ver como era sua avó quando ficava de cama. E disse-lhe:

— Que braços peludos a senhora tem, vovó!

-É para melhor te abraçar, minha neta.

— Que pernas compridas a senhora tem, vovó!

— É para melhor correr, minha neta.

— E que grandes orelhas, vovó!

— É para melhor te ouvir, minha neta.

— E que grandes olhos, vovó!

— É para melhor te ver, minha neta.

— E que grandes dentes a senhora tem, vovó!

— É para melhor te comer — e nhoque! avançou para a menina e a devorou.


---
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sugestão, críticas e outras coisas...