O imperador dos turcos, Tamerlão I,
e a rainha, sua mulher, desesperavam-se por não ter filhos. Já estavam de todo
sem esperança, quando veio ao mundo uma interessante filhinha.
Foi indizível a alegria dos pais, e
decretaram-se festejos pomposos para celebrar o nascimento da pequenina, e o
seu batizado, dias depois.
As fadas do país foram convidadas
para a festa; mas, por esquecimento, ou pela pouca importância que lhe davam,
esqueceram de mandar convite a uma delas, feia velha.
No dia do batizado compareceram todas,
e vaticinaram à jovem Íris todas as felicidades, desejando-lhe formosura,
beleza, fortuna, bondade, talento, e um noivo rico.
Quando a última acabou de falar,
apareceu à velha fada, que exclamou:
— A boda e o batizado não vá sem
ser convidado... Mas eu vim, porque também quero fazer o meu presente à jovem Íris.
Desejo que, quando chegar à idade de dezesseis anos, pique a mão num fuso, do
que morrerá.
Ficaram todos consternadíssimos com
tal profecia.
Uma fada, porém, que já conhecia
quanto era perversa a sua má companheira, e imaginando que seria capaz de
alguma partida, havia se escondido, e surgiu depois dela:
— Falo eu ainda, que nada ofereci à
princesa. Não tenho poder para destruir completamente o mau agouro da minha
colega, mas posso modificá-lo. Íris não morrerá, mas há de adormecer durante
cem anos, até que um príncipe jovem e formoso, venha despertá-la, casando-se
com ela.
Tamerlão I baixou imediatamente um
decreto, proibindo, sob pena de morte, o uso da roca e do fuso.
Íris cresceu, cheia de bondade,
formosíssima, espirituosa e querida de todos.
Um dia, porém, quando já havia
feito dezesseis anos, andando a passear pelo campo, entrou numa choupana
habitada por uma velhinha, que se achava fiando, por ignorar o édito imperial.
Curiosa daquilo que nunca tinha
visto, pediu para ver um fuso, e, sem jeito nenhum, picou-se no dedo. Caiu para
trás desfalecida.
O rei lembrou-se da profecia, e
vendo que todos os esforços e cuidados eram inúteis para despertá-la, mandou
que a transportassem para o palácio.
A boa fada, que destruiu em parte o
encanto da velha bruxa, apareceu. Preveniu que, devendo ela dormir um século,
ao despertar ficaria triste, não conhecendo mais ninguém.
Usando do seu poder, transformou
fidalgos, lacaios e criados, o rei e a rainha, em estátuas de mármore.
Em torno do palácio cresceu um
matagal tão espesso, tão cerrado, que o majestoso edifício não podia ser visto
da estrada.
***
Decorreram cem anos.
Íris continuava a dormir,
conservando sempre as mesmas faces cor de rosa, lábios vermelhos e cabelos
louros.
Um dia o filho de um rei, que então
governava os turcos, andando a caçar, avistou casualmente no meio do bosque, as
elevadas torres do palácio.
Perguntou o que era, e ninguém
sabendo informar, embrenhou-se com afoiteza pela floresta, cujos ramos se
abriram para deixá-lo passar.
Avistou o palácio, que se
conservava no mesmo estado, e ficou estupefato perante a beleza do que via,
admirando-se das estátuas de mármore — umas sentadas, outras deitadas, em
atitude de conversa, algumas.
Entrou pelas salas adentro, e,
quando chegou ao quarto da princesinha, ficou deslumbrado.
Assim que se aproximou, a formosa
jovem falou-lhe muito naturalmente:
— Tardaste tanto, príncipe! Há
muito que te esperava.
Havia terminado o encanto.
Todo o palácio acordou daquele
longo sono de cem anos.
Tamerlão e sua mulher, que julgavam
ter sabido do desmaio da filha poucos minutos antes, ficaram admirados vendo-a
conversar com um estrangeiro, vestido inteiramente fora da moda que não
conheciam.
Mas a boa fada apareceu e explicou
o que se havia passado.
O casamento de Íris com o príncipe
Heitor efetuou-se um mês depois, com um brilhantismo que hoje não existe, nem
mesmo nos países do Oriente.
---
Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...