Um bom santo monge, tendo por nome
Antônio, vivia numa cela, em companhia de outro religioso, de gênio menos
pacífico, chamado Frederico.
Certa manhã Frederico lhe disse:
— Na verdade passamos aqui
tristíssima existência!
— Como triste?! — respondeu o bom
Antônio. — Não devemos dar graças aos Céus pela calma e tranquilidade que
gozamos? As nossas orações, pela manhã, ao meio-dia, e à noite; nosso pequenino
campo para cultivar, livros instrutivos nos quais estudamos; algumas pobres
pessoas que nos trazem as suas ofertas, e que voltam consoladas; o pensamento
de que também prestamos alguns benefícios e que fazemos o bem; e a esperança de
cuidarmos assim da nossa salvação; que podemos desejar de melhor?
— Sim, tudo isso é bom e bonito — retorquiu
Frederico, — mas é sempre a mesma coisa — a mesma regra monótona, e o dia tão longo!
Para nos distrairmos um pouco, deveríamos disputar um com outro, algumas vezes.
— Disputar, Santo Deus! E por quê?
que razões de briga poderiam existir entre nós?
— Inventa-se um pretexto qualquer,
que nada tenha de sério, e que quebre por instantes a monotonia e a
uniformidade dos nossos hábitos. Por exemplo: eu apanho este livro e digo: Este
livro é meu; você responde que ele não é meu. Insisto na opinião; você insiste
na sua, e isso diverte-nos.
— Pois seja — disse Antônio, — se
isso lhe agrada, consinto.
— Olhe para este livro — exclamou,
então Frederico, — este livro é meu.
— Não, ele não é seu.
— Ele é meu, estou certo!
— Pois se você está certo — replicou
serenamente o pacífico Antônio, — não
devo contestar. Pode levá-lo.
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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.
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