João era filho de uma viúva, que
residia num pequeno sítio; bom rapaz, mas muito tolo. A gente da aldeia
chamava-o João Bobo.
Um dia sua mãe mandou-o à feira
comprar uma foice. Ao voltar, começou a brincar com o instrumento, a fazê-lo
rodar no ar, mas, com tanta falta de jeito, que a foice lhe escapuliu das mãos
indo matar um cordeiro.
— Que tolo rapaz és tu — disse-lhe
a mãe. — Para evitar qualquer acidente dessa natureza devias ter colocado a
foice em um dos carros de palha ou de feno que os nossos vizinhos trazem da
aldeia.
— Perdoe-me, minha mãe, para outra
vez hei de ser mais avisado.
Na semana seguinte, mandou-o
comprar agulhas, recomendando-lhe muito que não as perdesse.
— Fique sossegada, minha mãe! — exclamou
ele com toda a confiança.
Foi, e voltou triunfante.
— Então, Joãozinho, onde estão as
agulhas?
— Ah! estão em segurança! Saindo da
loja onde as comprei, vi o carro do nosso vizinho Manuel, carregado de feno.
Pus aí as agulhas. Estão em segurança.
— Sim — disse a mãe: — tão em
segurança que não há meio algum de achá-las. Devias tê-las espetado no teu
chapéu.
— Perdoe-me, mamãe, para outra vez
andarei com mais juízo.
Outra vez, em calmoso dia de verão,
João foi comparar uma pequena provisão de manteiga. Recordando-se do último
conselho de sua mãe, pôs a manteiga dentro do chapéu e o chapéu na cabeça.
Imagine-se em que lamentável estado
entrou em casa, com a manteiga derretida a escorrer-lhe pela cara abaixo.
Desanimada a velha não ousava mais
confiar-lhe a menor comissão.
Entretanto, determinou-se a
enviá-lo ainda ao mercado, para vender um casal de galinhas.
— Escuta — recomendou ela. — Não
aceites o primeiro preço que te oferecerem: espera pelo segundo.
Ao chegar ao mercado, um comprador
aproximou-se dele:
— Queres vinte cruzeiros por este
casal de galinhas?
— Não; mamãe disse que eu não
aceitasse o primeiro preço que me oferecessem, e que esperasse pelo segundo.
— Tua mãe tem muita razão. Pois
bem, o meu segundo preço é dez cruzeiros.
— Seja — respondeu ele. — Achava
melhor aceitar o primeiro. Mas como segui o seu conselho, penso que mamãe não
poderá censurar-me por este motivo.
Depois dessa nova bobagem, João foi
condenado a ficar em casa. Sua mãe sabia que zombavam dele e dela.
Um dia, porém, quis tentar nova
experiência.
— Vai à feira vender este carneiro.
Mas não te deixes enganar, e não entregues senão pelo mais alto preço.
— Bem — respondeu João, — desta vez
sei como hei de fazer.
— Quanto custa o carneiro? — perguntou-lhe
um lavrador.
— Minha mãe disse-me que o não desse
senão pelo mais alto preço.
— Queres vinte cruzeiros por ele?
— É o mais alto preço?
— Pouco mais ou menos.
— É meu o carneiro! — disse um
rapaz, que ouvira a conversa, subindo ao alto de uma escada.
— Por quanto?
— Cinco cruzeiros.
— É muito longe de vinte — replicou
João Bobo, timidamente,
— Sim. Mas olha até onde vai esta
escada; em toda a feira não há preço mais alto do que o meu.
— Tem razão. O carneiro é seu.
Desde esse dia o pobre João nunca
mais foi mandado a parte alguma, nem para comprar, nem para vender.
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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.
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