5/03/2025

João Bobo (Conto), de Figueiredo Pimentel


JOÃO BOBO

João era filho de uma viúva, que residia num pequeno sítio; bom rapaz, mas muito tolo. A gente da aldeia chamava-o João Bobo.

Um dia sua mãe mandou-o à feira comprar uma foice. Ao voltar, começou a brincar com o instrumento, a fazê-lo rodar no ar, mas, com tanta falta de jeito, que a foice lhe escapuliu das mãos indo matar um cordeiro.

— Que tolo rapaz és tu — disse-lhe a mãe. — Para evitar qualquer acidente dessa natureza devias ter colocado a foice em um dos carros de palha ou de feno que os nossos vizinhos trazem da aldeia.

— Perdoe-me, minha mãe, para outra vez hei de ser mais avisado.

Na semana seguinte, mandou-o comprar agulhas, recomendando-lhe muito que não as perdesse.

— Fique sossegada, minha mãe! — exclamou ele com toda a confiança.

Foi, e voltou triunfante.

— Então, Joãozinho, onde estão as agulhas?  

— Ah! estão em segurança! Saindo da loja onde as comprei, vi o carro do nosso vizinho Manuel, carregado de feno. Pus aí as agulhas. Estão em segurança.

— Sim — disse a mãe: — tão em segurança que não há meio algum de achá-las. Devias tê-las espetado no teu chapéu.

— Perdoe-me, mamãe, para outra vez andarei com mais juízo.

Outra vez, em calmoso dia de verão, João foi comparar uma pequena provisão de manteiga. Recordando-se do último conselho de sua mãe, pôs a manteiga dentro do chapéu e o chapéu na cabeça.

Imagine-se em que lamentável estado entrou em casa, com a manteiga derretida a escorrer-lhe pela cara abaixo.

Desanimada a velha não ousava mais confiar-lhe a menor comissão.

Entretanto, determinou-se a enviá-lo ainda ao mercado, para vender um casal de galinhas.

— Escuta — recomendou ela. — Não aceites o primeiro preço que te oferecerem: espera pelo segundo.

Ao chegar ao mercado, um comprador aproximou-se dele:

— Queres vinte cruzeiros por este casal de galinhas?

— Não; mamãe disse que eu não aceitasse o primeiro preço que me oferecessem, e que esperasse pelo segundo.

— Tua mãe tem muita razão. Pois bem, o meu segundo preço é dez cruzeiros.

— Seja — respondeu ele. — Achava melhor aceitar o primeiro. Mas como segui o seu conselho, penso que mamãe não poderá censurar-me por este motivo.

Depois dessa nova bobagem, João foi condenado a ficar em casa. Sua mãe sabia que zombavam dele e dela.

Um dia, porém, quis tentar nova experiência.

— Vai à feira vender este carneiro. Mas não te deixes enganar, e não entregues senão pelo mais alto preço.

— Bem — respondeu João, — desta vez sei como hei de fazer.

— Quanto custa o carneiro? — perguntou-lhe um lavrador.

— Minha mãe disse-me que o não desse senão pelo mais alto preço.

— Queres vinte cruzeiros por ele?

— É o mais alto preço?

— Pouco mais ou menos.

— É meu o carneiro! — disse um rapaz, que ouvira a conversa, subindo ao alto de uma escada.

— Por quanto?  

— Cinco cruzeiros.

— É muito longe de vinte — replicou João Bobo, timidamente,

— Sim. Mas olha até onde vai esta escada; em toda a feira não há preço mais alto do que o meu.

— Tem razão. O carneiro é seu.

Desde esse dia o pobre João nunca mais foi mandado a parte alguma, nem para comprar, nem para vender.



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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.

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