5/05/2025

A formiguinha (Conto), de Figueiredo Pimentel


A FORMIGUINHA

Uma formiguinha, tendo acordado muito cedo, escuro ainda, para trabalhar na armazenagem de suas provisões de inverno, saiu de casa. Nevava. Mal havia chegado à rua, uma pequenina gota de neve, caída naquele instante, enregelou-se, prendendo-lhe os pezinhos.

A formiguinha pôs-se a chorar, vendo-se presa, julgando que ia morrer, até que, ao meio-dia, o sol, fundindo a neve, conseguiu livrar-se.

Então, a formiguinha dirigiu-se à neve, e disse-lhe:

— Neve! como és tão forte que os meus pezinhos prendes?!

A neve respondeu:

— Mais forte é o sol, que me derrete.

A formiguinha dirigiu-se ao sol:

— Sol! tu és tão forte, que derretes a neve, a neve que meu pezinho prende?!

O sol respondeu:

— Mais forte é a parede que me tapa!

A formiguinha dirigiu-se à parede:

— Parede! tu és tão forte, que tapas o sol, o sol que derrete a neve, a neve que os meus pezinhos prende?!

A parede respondeu:

— Mais forte, é o rato que me rói!

A formiguinha dirigiu-se ao rato:

— Rato! tu és tão forte, que róis a parede, a parede que tapa o sol o sol que derrete a neve, a neve que os meus pezinhos prende?!

O rato respondeu:

— Mais forte é o gato que me come!

A formiguinha dirigiu-se ao gato:

— Gato! tu és tão forte, que comes o rato, o rato que rói a parede, a parede que tapa o sol, o sol que derrete a neve, a neve que os meus pezinhos prende?!

O gato respondeu:

— Mais forte é o cão, que me morde!

A formiguinha dirigiu-se ao cão:

— Cão! tu és tão forte, que mordes o gato, o gato que come o rato, o rato que rói a parede, a parede que tapa o sol, o sol que derrete a neve, a neve que os meus pezinhos prende?!

O cão respondeu:

— Mais forte é o homem, que me bate!

A formiguinha dirigiu-se ao homem:

— Homem! tu és forte, que bates no cão, o cão que morde o gato, o gato que como o rato, o rato que rói a parede, a parede que tapa o sol, o sol que derrete a neve, que os meus pezinhos prende?!

O homem respondeu:

— Mais forte é a morte, que me mata!

A formiguinha dirigiu-se à morte:

— Morte! tu és tão forte, que matas o homem, o homem que bate no cão, o cão que morde o gato, o gato que come o rato o rato que rói a parede, a parede que tapa o sol, o sol que derrete a neve, a neve que os meus pezinhos?!

A morte respondeu:

— Sou tão forte, que mato reis, fidalgos, ricos e pobres, escravos e senhores, homens e mulheres, nivelando tudo e fazendo todos iguais! Sou tão forte que te mato!...



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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.

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