Uma formiguinha, tendo acordado
muito cedo, escuro ainda, para trabalhar na armazenagem de suas provisões de
inverno, saiu de casa. Nevava. Mal havia chegado à rua, uma pequenina gota de
neve, caída naquele instante, enregelou-se, prendendo-lhe os pezinhos.
A formiguinha pôs-se a chorar,
vendo-se presa, julgando que ia morrer, até que, ao meio-dia, o sol, fundindo a
neve, conseguiu livrar-se.
Então, a formiguinha dirigiu-se à
neve, e disse-lhe:
— Neve! como és tão forte que os
meus pezinhos prendes?!
A neve respondeu:
— Mais forte é o sol, que me
derrete.
A formiguinha dirigiu-se ao sol:
— Sol! tu és tão forte, que
derretes a neve, a neve que meu pezinho prende?!
O sol respondeu:
— Mais forte é a parede que me
tapa!
A formiguinha dirigiu-se à parede:
— Parede! tu és tão forte, que
tapas o sol, o sol que derrete a neve, a neve que os meus pezinhos prende?!
A parede respondeu:
— Mais forte, é o rato que me rói!
A formiguinha dirigiu-se ao rato:
— Rato! tu és tão forte, que róis a
parede, a parede que tapa o sol o sol que derrete a neve, a neve que os meus pezinhos
prende?!
O rato respondeu:
— Mais forte é o gato que me come!
A formiguinha dirigiu-se ao gato:
— Gato! tu és tão forte, que comes
o rato, o rato que rói a parede, a parede que tapa o sol, o sol que derrete a
neve, a neve que os meus pezinhos prende?!
O gato respondeu:
— Mais forte é o cão, que me morde!
A formiguinha dirigiu-se ao cão:
— Cão! tu és tão forte, que mordes
o gato, o gato que come o rato, o rato que rói a parede, a parede que tapa o
sol, o sol que derrete a neve, a neve que os meus pezinhos prende?!
O cão respondeu:
— Mais forte é o homem, que me bate!
A formiguinha dirigiu-se ao homem:
— Homem! tu és forte, que bates no
cão, o cão que morde o gato, o gato que como o rato, o rato que rói a parede, a
parede que tapa o sol, o sol que derrete a neve, que os meus pezinhos prende?!
O homem respondeu:
— Mais forte é a morte, que me
mata!
A formiguinha dirigiu-se à morte:
— Morte! tu és tão forte, que matas
o homem, o homem que bate no cão, o cão que morde o gato, o gato que come o
rato o rato que rói a parede, a parede que tapa o sol, o sol que derrete a
neve, a neve que os meus pezinhos?!
A morte respondeu:
— Sou tão forte, que mato reis,
fidalgos, ricos e pobres, escravos e senhores, homens e mulheres, nivelando
tudo e fazendo todos iguais! Sou tão forte que te mato!...
--
Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...