5/03/2025

A gratidão da serpente (Conto), de Figueiredo Pimentel


A GRATIDÃO DA SERPENTE

Quando Carlos Magno esteve em Zurique, na Suíça, mandou anunciar que à hora do almoço, ouviria todos que tivessem uma queixa a formular ou um ato de justiça a pedir. Para isso bastaria que fizesse tanger sino dependurado à porta do palácio e o queixoso seria admitido à sua presença.

Um dia em que o grande imperador se achava à mesa, com os seus valentes companheiros de armas, o sino vibrou de um modo estranho e insistente.

O criado voltou poucos minutos depois, dizendo que a ninguém encontrara.

Entretanto, o sino fez-se ouvir segunda e depois terceira vez, mais forte e prolongado do que nas duas anteriores. Mas não se via pessoa alguma.

Olhando, porém, para cima, o criado distinguiu casualmente uma grande serpente, que se achava suspensa na corda do sino, fazendo-o soar.

Sabendo quem era o estranho suplicante que lhe vinha pedir justiça, o imperador levantou-se, dirigindo-se para a porta, dizendo que tanto devia ouvir as queixas dos brutos, com as dos homens.

Em presença do magnânimo monarca, o asqueroso réptil inclinou-se, reverente e respeitoso.

Depois olhou-o com as suplicante, e começou a colear-se pela terra, voltando-se de vez em quando, a fim de ver se o acompanhavam.

O imperador compreendeu, e acompanhou-o passo a passo.

Chegando próximo a um buraco cavado nas pedras a cobra parou, e Carlos Magno descobriu a gruta onde o desgraçado bicho morava com seus filhos.

Nessa gruta havia um animal enorme e terrível, que dela se apossara violentamente.

O imperador fê-lo matar, e a serpente entrou no seu ninho, alegre e prazenteira.

No dia seguinte, também à hora da refeição, viram reaparecer o mesmo réptil.

Dessa vez não vinha implorar proteção ao monarca, mas sim, testemunhar gratidão ao benfeitor.

A cobra arrastou-se até à sala de jantar, subiu em cima da mesa, levantou-se e depôs no copo de Carlos Magno um grande brilhante de extraordinária beleza e imenso valor.



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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.

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