Poderoso monarca de um grande país
desejou mandar reconstruir suntuosa igreja.
Em virtude de formal sentença,
nenhuma outra pessoa, a não ser ele, podia contribuir para essa edificação.
Nenhum dos vassalos tinha o direito de dar nem um vintém.
Quando a catedral ficou pronta esplêndida
edifício de magnífica arquitetura o rei mandou gravar no frontispício, sobre
uma placa de mármore, uma inscrição em letras de ouro, declarando que ele,
somente ele, tinha levado a cabo aquela obra, e nenhuma outra pessoa tinha
cooperado para aquele fim.
Durante a noite, porém, o nome do
rei foi substituído pelo de uma mulher do povo. O soberano mandou gravar
novamente o seu nome, e na noite seguinte deu-se nova substituição. Três vezes
sua majestade mandou inscrevê-lo, e três vezes apareceu o da humilde
mulherzinha.
Então o monarca julgou ver naquele
fato estranho o dedo de Deus, e ordenou que trouxessem à sua presença a pobre
mulher.
Trêmula, receosa, confusa, ela
compareceu em palácio.
— Não sabes — disse ele, — que
proibi terminante e formalmente a quem quer que fosse, contribuir para a edificação
da minha igreja? Acaso infringiste a minha ordem?
— Piedade — respondeu ela, caindo
de joelhos. — Piedade, poderoso monarca! confessar-vos-ei a verdade. Eu sou uma
pobre mulher, muito pobre mesmo, que vive do seu trabalho. Fiando noite e dia,
ganho apenas para meu sustento. Entretanto, possuía um vintém, e quis oferecê-lo
ás vossas obras. Então, com o vintém comprei um pouco de feno, dei-o aos bois
que conduziam os materiais para a catedral, e os animais comeram. Eis aí como
pude fazer a minha oferenda, sem vos desobedecer.
O rei, comovido, viu que aquela
humilde criatura, na sua indigência, tinha feito uma oferenda mais piedosa do
que ele.
Arrependeu-se do seu orgulho e
recompensou liberalmente a virtude da pobre mulher.
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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.
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