Havia uma velha que possuía, por toda
riqueza, apenas três galinhas: uma branca, outra amarela e a terceira preta.
Mal rompia a madrugada, abria a
porta do pequeno galinheiro e deixava-as à solta pelo meio do campo, até vir a
noite.
As duas primeiras, como eram de boa
raça, lindas penas, crista vermelha e calção, afugentavam a preta a bicadas.
Quando passeavam pelo campo, bicando em busca de bichinhos, as fidalgas
escorraçavam sempre a companheira, que se ficava atrás, muito triste por se ver
assim desprezada.
Uma vez andava a branca a
esgravatar na terra, quando bateu com o bico numa panela com dinheiro.
Chamou logo a amarela, e
mostrou-lhe o tesouro. A preta aproximou-se também, mas deram-lhe muitas
bicadas, e correram-na para longe.
— Que havemos de fazer desse
dinheiro? — disse a branca.
— Levamo-lo à nossa dona — lembrou
a amarela.
— Credo! — exclamou a soberba. — Nem
falar nisso é bom! Com o dinheiro vou mandar constituir uma casa para nós ambas.
Depois da casa feita, meteram-se
dentro, fecharam as vidraças, trancaram a porta pelo lado de dentro e deixaram
fora a preta.
Veio a noite, e só apareceu a
preta.
— Onde estão as outras? — perguntou
a dona.
A preta contou-lhe tudo.
— Deixe as ingratas, que me pagarão
— disse a velhinha.
E recolheu-a na capoeira, dando-lhe
muito milho.
Pelo meio da noite, a raposa, que
andava muito esfaimada, a rondar pelas capoeiras da vizinhança, passou pelo
quintal da velhinha, e disse com os seus botões:
— Aqui nem vale a pena tentar! A
velha fecha. tão bem a porta, que é melhor ir-me embora.
E foi andando de docinho no ar, a
farejar...
No meio do campo, topou com uma
casinha nova, e exclamou:
— Olá! prédio novo! Vamos ver o que
é isto...
Encaminhou-se para lá, tomou
altura, cheirou, e sentiu que havia galinhas.
Trepou para o telhado, quebrou as
telhas e deixou-se cair em baixo. As duas galinhas caíram no papo da raposa,
que, depois de comer, se safou pelo mesmo sítio por onde tinha vindo.
Pela manhã, a galinha preta e a
dona foram ver a casa das outras. Quando chegaram, a velhinha chamou pelas
galinhas, mas estas não apareceram. Subiu a uma janela, empurrou-a, arrombou-a,
e viu penas pelo chão, e um grande rastro de sangue...
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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.
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