5/05/2025

As três galinhas da velha (Conto), de Figueiredo Pimentel


AS TRÊS GALINHAS DA VELHA

Havia uma velha que possuía, por toda riqueza, apenas três galinhas: uma branca, outra amarela e a terceira preta.

Mal rompia a madrugada, abria a porta do pequeno galinheiro e deixava-as à solta pelo meio do campo, até vir a noite.

As duas primeiras, como eram de boa raça, lindas penas, crista vermelha e calção, afugentavam a preta a bicadas. Quando passeavam pelo campo, bicando em busca de bichinhos, as fidalgas escorraçavam sempre a companheira, que se ficava atrás, muito triste por se ver assim desprezada.

Uma vez andava a branca a esgravatar na terra, quando bateu com o bico numa panela com dinheiro.

Chamou logo a amarela, e mostrou-lhe o tesouro. A preta aproximou-se também, mas deram-lhe muitas bicadas, e correram-na para longe.

— Que havemos de fazer desse dinheiro? — disse a branca.

— Levamo-lo à nossa dona — lembrou a amarela.

— Credo! — exclamou a soberba. — Nem falar nisso é bom! Com o dinheiro vou mandar constituir uma casa para nós ambas.

Depois da casa feita, meteram-se dentro, fecharam as vidraças, trancaram a porta pelo lado de dentro e deixaram fora a preta.

Veio a noite, e só apareceu a preta.

— Onde estão as outras? — perguntou a dona.

A preta contou-lhe tudo.

— Deixe as ingratas, que me pagarão — disse a velhinha.

E recolheu-a na capoeira, dando-lhe muito milho.

Pelo meio da noite, a raposa, que andava muito esfaimada, a rondar pelas capoeiras da vizinhança, passou pelo quintal da velhinha, e disse com os seus botões:

— Aqui nem vale a pena tentar! A velha fecha. tão bem a porta, que é melhor ir-me embora.

E foi andando de docinho no ar, a farejar...

No meio do campo, topou com uma casinha nova, e exclamou:

— Olá! prédio novo! Vamos ver o que é isto...

Encaminhou-se para lá, tomou altura, cheirou, e sentiu que havia galinhas.

Trepou para o telhado, quebrou as telhas e deixou-se cair em baixo. As duas galinhas caíram no papo da raposa, que, depois de comer, se safou pelo mesmo sítio por onde tinha vindo.

Pela manhã, a galinha preta e a dona foram ver a casa das outras. Quando chegaram, a velhinha chamou pelas galinhas, mas estas não apareceram. Subiu a uma janela, empurrou-a, arrombou-a, e viu penas pelo chão, e um grande rastro de sangue...



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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.

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