Passeavam, um dia, pela terra,
Jesus Cristo, e São Pedro, cada um montado no seu burrinho, e chegaram a uma
ferraria situada à beira do caminho.
Nosso Senhor aproveitou para mandar
ferrar o animal; e, tendo gostado do trabalho do ferreiro, dando-se a conhecer,
disse:
— Não te dou dinheiro, bom homem,
mas prometo satisfazer a três pedidos que formulares. Dize lá o que desejas...
— Pede-lhe o Reino do Céu,
ferreiro... — segredou-lhe São Pedro.
— Eu não! — retorquiu o ferreiro. —
O Reino do Céu não me enche barriga. E voltando-se para Jesus: — Quero que toda
a pessoa que se sentar neste banco se não possa levantar sem minha ordem.
— Concedo!... Qual é a segunda?
— Pede o Reino do Céu, ferreiro!...
— tornou São Pedro.
— Não me aborreça homem! — disse o
ferreiro. — Depois de morto, tanto me faz ir para o Céu como para o Inferno.
Dirigiu-se a Nosso Senhor:
— Quero que todo aquele que subir
nesta figueira, dela não possa sair sem o meu consentimento.
— Concedo!... Qual é a última coisa
que desejas? —
— Pede o Reino do Céu, ferreiro!....
— tornou-lhe São Pedro, pela terceira vez.
— Que cacete! — exclamou o
ferreiro. — Já lhe disse que não preciso do Céu para nada... Quero que todo aquele
que entrar dentro deste saco de couro, dele não possa sair sem que eu o permita.
— Concedo — disse Jesus Cristo,
montando no burrinho e partindo acompanhado de São Pedro.
Quando Nosso Senhor desapareceu, o
ferreiro posse a refletir no que lhe havia sucedido.
— Ora, Senhor!! — dizia ele com os
seus botões — fui um grande tolo!!... Para que servem os desejos que
manifestei, quando podia pedir dinheiro e ser fabulosamente rico?! Também, se o
diabo me aparecesse agora, era capaz de lhe vender a minha alma!
Pronunciando essas palavras, sentiu
um grande cheiro de enxofre, e Satanás apareceu-lhe, vestido elegantemente, mas
deixando ver os seus pés de cabra.
— Eis-me aqui, ferreiro. Estou
pronto a fazer o negócio que desejas. Serás fabulosamente rico, mas daqui a dez
anos virei buscar-te.
E desapareceu como tinha vindo.
***
Durante dez anos aquele prazo, Satanás
apareceu. O ferreiro, que já tinha imaginado o meio de o enganar, disse-lhe:
— Pois não! O prometido é decido.
Espera um pouco sentado neste banquinho, enquanto vou preparar-me.
O diabo sentou-se; mas passado
algum tempo, vendo que a sua vítima não vinha, quis levantar-se. Debalde!
Gritou, esbravejou, mas não o conseguiu.
Então apareceu o ferreiro:
— Não te poderás erguer sem o meu
consentimento, e eu não to darei enquanto não me prometeres que prorrogarás o
prazo por outros dez anos.
Satanás, querendo ver-se solto,
acedeu.
Passado esse tempo, voltou, e o
ferreiro usando das mesmas astúcias, fê-lo subir à figueira do inferno, donde
não conseguiu descer senão depois de combinar que esperaria outros dez anos.
Pela terceira vez o diabo voltou.
Entrando no saco de couro, o ferreiro meteu-o na bigorna, e começou a malhá-lo,
até que o desligou da palavra dada, e despediu-se para nunca mais voltar.
***
Tempos depois o ferreiro morreu e
foi bater à porta do Céu. São Pedro veio abri-la, e reconhecendo-o, negou-lhe a
entrada.
Em vista disso, foi ele para o
inferno, mas o diabo, também se recusou a recebê-lo, receando novas traições.
Desde esse dia, a alma do ferreiro
vaga errante pelo espaço.
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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.
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