Em um mosteiro da Europa vivia um
jovem frade, muito compassivo e estudioso, chamado Urbano, encarregado da
importantíssima biblioteca do convento. Era aí que vivia a maior parte do
tempo, estudando, lendo preciosos livros, escrevendo.
Um dia, estando a ler, encontrou as
seguintes palavras de São Paulo: Diante de Deus, mil anos são como um dia ou
como uma vigília noturna.
Não podia acreditar na verdade
dessa sentença, e gravemente, durante muito tempo, nela pensou.
Na manhã seguinte passeava pelo
jardim, quando avistou um lindo passarinho, que ora saltava pelo chão, ora
pulava sobre os ramos de algum arbusto volteando aqui e ali, cantando
maviosamente como um rouxinol.
Seduzido, atraído pela suavidade
daquela música encantadora, Urbano seguiu a avezinha, primeira pelo prado,
depois pela floresta, resolvendo em seguida regressar para o seu mosteiro.
Mas, qual não foi a sua surpresa
quando tornou a vê-lo! Em poucos instantes, que prodigiosas mudanças! O jardim
fora aumentado; o convento também estava maior e por cima das suas espessas
paredes, ostentava-se um magnífico campanário.
Urbano adiantou-se estupefato. Bateu
à porta, e o irmão porteiro que lhe veio abrir, era-lhe inteiramente
desconhecido. Entrou no cemitério, e viu túmulos que, nunca vira, nomes que
jamais conhecera.
Os religiosos reuniram-se em torno
dele, que os olhava com espanto, porque não conhecera um só sequer e todos
também o contemplavam pasmados, perguntando-se quem seria aquele velho.
Trazia o hábito da ordem, mas a sua
figura apresentava estranho aspecto: longos cabelos de neve caíam sobre o seu
capuz, e uma barba branquíssima descia-lhe até à cintura, donde pendia a chave
da biblioteca.
Conduziram-no para junto do abade,
que lhe perguntou quem era, como se chamava e de onde vinha.
Urbano, surpreendido por aquele
interrogatório, respondeu, entretanto, surpreendido igualmente o abade pelas
suas perguntas.
Um religioso lembrou-se de haver
lido, numa antiga crônica do mosteiro, um fato singular, ao qual se achava
ligado o nome de Urbano.
Procuraram o alfarrábio. Leram que
um jovem frade, encarregado da biblioteca, havia desaparecido subitamente, sem
que pessoa alguma jamais soubesse o que lhe sucedera.
Desde aquele dia, trezentos anos se
haviam passado.
O bom Urbano, que pensava não ter
seguido senão alguns instantes o harmonioso passarinho, havia ficado três
séculos a escutá-lo.
Então compreendeu como milhares e
milhares de anos escoam diante de Deus, como se fossem minutos, no círculo sem
fim da Eternidade.
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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.
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