5/03/2025

O vaso de lágrimas (Conto), de Figueiredo Pimentel


O VASO DE LÁGRIMAS

Piedosa e honesta viúva tinha uma filha muito boa e gentil, a quem amava sobre todas as coisas, sem poder separar-se dela um só instante sequer.

A interessante menina, porém, enfermou, e morreu pouco depois.

Ao vê-la partir, a pobre mãe que havia velado dia e noite, durante toda a sua enfermidade, sentiu-se possuída de inexprimível dor. Não quis tomar alimento algum, e sem cessar chorava e lamentava-se amargamente.

Uma noite, em que se achava mais do que nunca entregue à dor e ao desespero, no próprio lugar em que a filha exalara o último suspiro, a porta do quarto abriu-se, e viu aparecer a querida mortazinha, com um olhar e um sorriso de anjo.

Trazia na mão um vaso cheio até as bordas e dirigiu-lhe a palavra:

— Oh! minha mãe, não chores mais! Vê: o Anjo do Luto e da Dor recolheu neste vaso todas as tuas lágrimas. Se chorares ainda, elas transvasarão, correndo sobre mim, e perturbando o meu repouso no túmulo e a minha felicidade no Céu.

A menina desapareceu. A mãe acalmou-se, e deixou de chorar, para não perturbar a alegria de sua filha, no Paraíso.


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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.

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