6/04/2025

O moço velho (Conto), de Iba Mendes


O MOÇO VELHO 

Conta-se que certo moço, no esplendor de sua juventude e já enfastiado de sua mocidade, nutria de compulsiva inveja dos anciões de avançada idade. Seu grande sonho de felicidade não era amar e ser amado, nem ser rico e conhecido por todos. Acreditava sinceramente que sua grande fortuna consistia em alcançar a velhice, e se deliciava com essas fantasias.

Em consequência disso, nunca era visto entre os de sua idade ou fazendo aquilo que normalmente fazem os jovens. Ao contrário, gostava de frequentar os lugares próprios para os velhos e se divertir junto com eles nos salões de festas, nos bancos das praças e em outros ambientes próprios da ancianidade.

Com o decorrer dos anos, esse seu surpreendente apreço pelo senil, levou-o a adquirir hábitos que se tornaram bizarros aos olhos de quase toda a cidade, e inaceitáveis para os mais íntimos. Passou a vestir-se à maneira dos idosos, a andar de bengala e um tanto giboso como eles; deixou a barba crescer e começou a se interessar por filosofia e músicas antigas.

Alguns acreditavam que tinha perdido o juízo e que por isso deveria ser mandado ao manicômio.

— Já que gosta tanto de velho, que vá para o asilo — diziam os mais sarcásticos.

Quantos aos próprios velhos, as opiniões entre estes divergiam. Havia aqueles que viam os gestos do moço como um exemplo inspirador de veneração e respeito, e que, por seus próprios méritos, mereciam ser louvados e imitados por todos os outros de sua idade; a maioria, no entanto, seguia pelo mesmo bojo da multidão, que o tomava como estúpido e alienado.

O tempo, entretanto, mostrou que o excêntrico modo de agir do mancebo não indicava qualquer sinal de demência ou alienação. Em vez disso, tornavam-no cada vez mais gentil e benevolente, especialmente para os de mais idade, e de tal modo que conquistou a simpatia e o respeito de todos eles.

Mas esse mesmo tempo, como bem disse outro bom velho, é um rato roedor das coisas, que as diminui ou altera no sentido de lhes dar outro aspecto. E foi assim que envelheceu o nosso jovem ancião.

Aos setenta anos, sentia-se cansado e saudoso dos velhos anos que não podiam voltar mais. A velhice o havia surpreendido e agora amava a juventude como nunca havia amado antes. Amava e desejava o que não podia ter.

Com o avançar da idade, ficou desgostoso e passou a imitar os moços, a querer ser novamente jovem; fez a barba e tentou, em vão, livrar-se da bengala. Esforçava-se para mostrar que podia fazer as mesmas proezas dos velhos tempos, e muitas vezes teve de ser amparado em praça pública ante os escárnios dos mancebos e das donzelas. Agora, alardeava aos quatro ventos que odiava a velhice e maldizia as cãs embranquecidas. Sofria assim o ridículo de sua própria decrepitude mental e física.

***

Em certo dia, quando o sol já descansava por trás das grandes árvores do ocaso, sozinho, a olhar para o ar, com a cabeça entre as mãos, ele ruminava seus remorsos de velho, a vida que poderia ter sido... De repente viu aproximar um moço. Este chegou-se a ele e sentou-se ao seu lado. Conversaram largamente. Ao despedirem-se, o idoso ergueu-se e o abraçou tão fortemente que parecia sentir nele a sua própria alma: eterna e jovem.

 

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