5/28/2017

Coelho Neto: aspectos biográficos


A vida anedótica e pitoresca dos grandes escritores: Coelho Neto

Publicado em 1921. Pesquisa, transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2017)

A 21 de fevereiro de 1920, completando Coelho Neto 55 anos de Idade, “A Folha” de Medeiros e Albuquerque, mandou entrevistai-o a respeito de sua carreira literária. As respostas do grande escritor são interessantes:
— “A minha primeira publicação data de 1880 a 1881, se não me falha a memória... Era um soneto “No Egito”, que publiquei nos “A pedido”, do “Jornal do Comércio”... Em seguida mandei para a “Gazetinha”, sob a direção de Favilho Nunes, dois contos, um dos quais intitulava “Marocas”... Arthur Azevedo, que fazia então o “Correio” desse jornal, passou-me uma descoruponendazinha. Disse lá que o autor de tal “Marocas” devera procurar outro ofício. Aquilo doeu-me no íntimo. Fiquei tristíssimo, mas não desanimei. No meu isolamento comecei a trabalhar num poema épico “Guanabara”, de que não sei por onde andam os originais. Ao mesmo tempo, escrevia também uma peça para teatro, uma opereta “A profecia”... Tudo, porém, ficou sem publicação. Em 1883 fui para São Paulo e lá encontrei Raul Pompeia, meu companheiro literário, com quem comecei a escrever. Entrando na Academia de Direito, lá fui companheiro de Raimundo Correia, Valentim Magalhães e Augusto de Lima, naquela vida boêmia de então, sob a impressão ainda dos versos de Álvares de Azevedo... Vários jornais acadêmicos saíam mensalmente, combatendo pelas ideias abolicionistas. Em “A Onda” colaborei ao lado de Rivadávia Correia, Muniz Barreto, Gomes Cardim e Nelson Tobias. Depois fundei “O Meridiano” de que saíram quatro números apenas. As ideias combativas do tempo levavam-nos à tribuna, que ocupei por várias vezes, em discursos incendiários pró abolicionismo...
Em outubro desse ano embarquei para Recife, onde fui prestar exame do meu primeiro ano de direito. Na luminosa capital nortista colaborei em “A Folha do Norte, de Martins Júnior... Pairava sobre todos nós a figura inolvidável de Tobias, de quem fui íntimo... Nas minhas horas de isolamento completo vejo o grande mestre na minha retina: os lábios grossos, os olhos empapuçados de longo escudo, o cabelo puxado na testa, a explodir a sua gigantesca admiração pela Alemanha...
Sigamos. Voltei a São Paulo em 84 onde, com fervor, tentei os primeiros contos, os artigos de polêmica, e senti as primeiras manifestações exercidas no meu espírito por Maupassant. Foi para mim o período mais fecundo de leitura ao lado de Pompeia, que era um devorador de livros clássicos...
Só em 85 vim para o Rio, onde, a convite de Patrocínio, me fixei, entrando a fundo na campanha abolicionista, com prejuízo da minha carta de bacharel. Aqui, morando com Aluísio de Azevedo, comecei as minhas primeiras tentativas de romance, trabalhando ativamente na “Gazeta da Tarde”, em obra jornalística... Na “Vida Moderna”, de Luiz Mura e A. Azevedo, comecei a colaborar, publicando os “Contos”, com o pseudônimo de Charles Rouget. Dirigi “O Dia” e o “Diário Ilustrado”. Trabalhei no “Novidades”, com Alcindo Guanabara; na “Gazeta de Notícias”, no “O País”, no “Diário de Notícias”, com Rui Barbosa. Redigi norte e do sul do país; na “Cidade do Rio”, com Patrocínio, sendo secretário da “A Folha”, quando veio a abolição. Ainda fui folhetinista do “Correio da Manhã”, publicando um conto aos domingos...
Eis aí minha obra de jornal...
O primeiro volume publiquei depois do meu casamento, em 1890, “Rapsódia”. Tendo feito um contrato com Domingos de Magalhães, obriguei-me a dar mediante a quantia de 400$ mensais de dois em dois meses, originais para um volume, nunca inferior a 200 páginas.
Esse editor publicou oito volumes perdendo os originais de sete obras, consideradas. São elas: “Painéis”, “Geórgicas”, “Mosaicos”, “Fagulhas”, “Maravilhas” e “Vida Nômade”. Também desapareceu o volume “Fim de Século”, negociado em 1901 com João Mofreita, de São Paulo.
Tenho também entregues e não publicados, à Livraria Alves, desde 1900, o original de uma obra intitulada “Viajem de uma família ao Norte do Brasil” e um sainete, intitulado “Água de Caxambu”, escrito por encomenda da empresa das referidas águas...
Tenho, portanto, publicados, até hoje, 62 volumes.
Entregues e em vésperas de sair, tenho quatro, sendo um ao editor Romualdo dos Santos, da Baia; outro, a minha campanha política no Maranhão, que eu mesmo editarei com o título “Reação Cívica” e mais dois em mãos de Lello, Irmãos do Porto. Esses editores estão reeditando, em edições revistas, e algumas inteiramente refundidas, toda a minha obra... Nessa estatística, não incluo os folhetos e opúsculos que são em número de sete... além disto, tenho vertidos para línguas estrangeiras, três volumes em alemão, anunciando os editores em “Wilduis”, o aparecimento de mais dois outros: “Urwald” (Floresta) e “Schwartz Koenig” (Rei Negro), livros esses que ficaram encalhados por motivo da guerra.
Uma casa francesa anuncia a tradução de “Rei Negro”, sob o título de “Macambira”.
Além disso, outras casas, uma francesa e outra sueca, pedem-me para traduzir contos para uma antologia de escritores ibéricos...
Acham-se em minhas mãos para enviar aos meus editores portugueses seis volumes e mais um à Livraria Alves, sendo três romances, dois volumes de contos, de ficção; um volume de contos sociais e um livro em que escrevo as minhas conferências na Escola Dramática... Eis o que você queria. Estão aí a minha obra e a minha vida.”

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