Graciliano Ramos: “São Bernardo”
Caso fosse necessário apenas uma palavra para definir a personagem Paulo Honório, do romance “São Bernardo”, de Graciliano Ramos, tal palavra seria esta: “posse”. Honório é o lídimo modelo do homem de propriedade, para o qual, nas palavras de Antônio Cândido, “o mundo se divide em dois grupos: os eleitos, que têm e respeitam os bens materiais; os réprobos, que não os têm ou não os respeitam”. Nele o verbo “ser” dá lugar ao “ter”, o que resume sua própria essência. A relação dele com as coisas, incluindo aqui as pessoas, torna-o de algum modo a “encarnação” do próprio capitalismo.
Caso fosse necessário apenas uma palavra para definir a personagem Paulo Honório, do romance “São Bernardo”, de Graciliano Ramos, tal palavra seria esta: “posse”. Honório é o lídimo modelo do homem de propriedade, para o qual, nas palavras de Antônio Cândido, “o mundo se divide em dois grupos: os eleitos, que têm e respeitam os bens materiais; os réprobos, que não os têm ou não os respeitam”. Nele o verbo “ser” dá lugar ao “ter”, o que resume sua própria essência. A relação dele com as coisas, incluindo aqui as pessoas, torna-o de algum modo a “encarnação” do próprio capitalismo.
Ao “unir” dois grandes antagonismos da história
moderna (capitalismo e socialismo), representados no romance por Paulo Honório
e Madalena, Graciliano Ramos não tenciona mostrar o que havia em comum entre
ambos, mas o inverso disso, ou seja, o contraste que norteia a vida conjugal
das personagens. A oposição de ideias é nítida e explícita durante todo o
período em que durou o relacionamento.
Enquanto que, para Madalena o casamento significava
uma oportunidade de crescimento mútuo e de conquistas sociais, para Paulo
Honório era uma espécie de relação comercial na qual a mulher, que é sempre
vista como fácil e frágil, poderia garantir financeiramente o futuro, e de tal
maneira que não haveria necessidade de ajustes ou afinidades, muito menos amor “ - Qual reciprocidade! Pieguice. Se o casal
for bom, os filhos saem bons; se for ruim, os filhos não prestam. A vontade dos
pais não tira nem põe. Conheço o meu manual de zootecnia”.
Enquanto para Madalena ajudar as pessoas era uma
questão de princípio e de vida, para Paulo Honório era um desperdício extremo:
para ele as pessoas só tinham importância quando lhe eram úteis, quando serviam
para seus egocêntricos propósitos.
Enfim, os fatores capitalismo e socialismo são
apresentados por Graciliano com acentuada tendência ideológica, e sempre com o
favorecimento do primeiro. O capitalismo é pintado na pessoa de Paulo Honório
de forma monstruosa, ao passo que o socialismo é personificado em Madalena por
inúmeras virtudes. É, de certa forma, a luta do bem contra o mal. Entretanto,
ao contrário do que costuma ocorrer nessa eterna batalha, é o mal quem vence, muito
embora seja apenas vitória aparente, já que a morte de Madalena não significa o
aniquilamento do socialismo, mas a prova de que ele existe e que pode ser
praticado."
É isso!
Iba Mendes
São Paulo, 2003.
São Paulo, 2003.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...