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A Esperança
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Não havia a
pobreza, porque a terra, como uma mãe carinhosa, produzia frutos para o aumento
de todos. Não se conheciam os ardores do verão, os rigores do inverno, nem a
ameaça das tempestades; uma primavera continua refrescava os ares, animava a
verdura dos campos e fazia nascer os frutos. Os animais viviam da mesma forma;
os pássaros com os répteis, as ovelhas com as feras.
Desta maneira
todos se sentiam absolutamente ditosos.
Júpiter,
porém, possuía uma boceta, que estava fechada, e que continha todos os males
que a humanidade sofre atualmente.
Nela estavam
ocultas a amargura, a guerra, a peste, a fome, o assassínio, a ingratidão e
todo o gênero de sofrimentos a que o homem está sujeito.
Um dia,
Júpiter, tendo de descer do Olimpo com o fim de visitar a terra, como não
quisesse abandonar a boceta à curiosidade dos outros deuses, chamou Pandora e
falou-lhe assim:
— Toma esta
boceta. Ela contém toda a espécie de males criados pelas forças infernais; se a
abrires, a humanidade há de sofrer eternamente. É por isso que ta confio, na
certeza de que saberás guardai-a com o maior cuidado, não só pelo respeito que
deves às minhas ordens, como pela piedade que te inspira a fraqueza humana.
E entregou-a a
Pandora.
Esta deusa
guardou a boceta durante muito tempo; mas como era excessivamente curiosa,
resolveu abri-la.
Abriu-a.
A princípio
escapou a guerra: logo os homens começaram a inventar os punhais envenenados,
couraças, lanças, setas e toda a variedade de armas de defesa, para, quando
fosse ocasião, marchar para o campo da batalha e escravizar os povos vencidos.
A peste abateu
os soldados; as lágrimas umedeceram os olhos das mulheres; o falso amigo
escondeu no seio o punhal assassino; o filho ridicularizou a velhice dos pais;
e assim por diante os males foram saindo da boceta encantada, espalhando-se
pelo mundo, acordando sentimentos maus nos corações e derramando por toda a
parte a desolação e o luto.
Pandora sentiu
remorsos nesse instante e fechou a boceta.
Todos os
males, porém, já tinham saído exceto um: a esperança.
A esperança
ficou no fundo, escondida, para consolar as mágoas e animar o mundo; de modo
que, por mais infelizes que nos julguemos, sempre nos resta a esperança de
alcançarmos uma felicidade futura, um suave descanso para as nossas tristezas e
um consolo para as nossas aflições.
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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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