7/16/2019

Porfirio Diaz (Memória), de Ronald de Carvalho



Porfirio Diaz

A nacionalidade estava temperada. Faltava, porém, um reativo que desse consistência ao amálgama. Esse reativo foi o general Porfirio Diaz. Vencedor das tropas francesas, libertador do território, Diaz assumiu o governo como um chefe
militar ascende ao comando de um exército. Dirigiu a República, durante trinta anos, a toque de clarim. Volveu os cuidados da sua administração quase que exclusivamente para as obras materiais. Por esse lado, sua contribuição foi fecunda. O México articulou-se materialmente, ganhando logar de primazia entre as Repúblicas hispano-americanas. Enraizado nos preconceitos de uma pequena aristocracia, que o rodeava, Porfirio Diaz esqueceu-se do povo. O ditador deslumbrou-se com as servidões que o seu mando improvisava. E, apesar do luxo que irradiava da sua corte, dos tesouros que rolavam dos empréstimos para os cofres nacionais, continuava de pé, agravando-se, dia por dia, como nos albores da independência, o problema fundamental do México: a quase totalidade do povo não participava da fortuna pública. Segundo a Repartição Geral de Estatística do México, nas vésperas de ser deposto o general Diaz, apenas 9.000 indivíduos possuíam terras, numa população de cerca de 15 milhões de seres.

"A maioria dos fazendeiros, escreve um historiador mexicano, possuía propriedades de mais de sessenta milhões de hectares, tornando-se, portanto, impossível o seu cultivo completo e racional. Esses grandes senhores feudais não se preocupavam com as suas fazendas, deixando-as, em geral, entregues a capatazes fiéis, que lhes remetiam para Madrid, Paris, ou Londres, o produto das suas rendas.

"As terras desses latifundistas eram trabalhadas pelo sistema de "peonagem" O peão era o servo da gleba. Não se lhe permitia, via de regra, possuir terras, nem instrumentos de lavoura. Ele devia servir ao amo, trabalhando de sol a sol, mediante o preço de 15 a 25 centavos diários. Os artigos do seu sustento e vestimenta eram adquiridos no armazém da fazenda. Dado o seu estado miserável, muitas vezes não era pago em dinheiro. Seu irrisório salário obrigava-o, fatalmente, a contrair dívidas com o patrão, dividas que o escravizavam para toda a vida, transmitindo-se à sua descendência. Os filhos de pães insolváveis pertenciam à clientela dos senhores. Don Francisco Bulnes, insuspeitíssimo panegirista de Porfirio, escreve, a propósito, em "La Crisis Monetária", que, num país onde existia a escravidão um "bom negro" custava mil pesos, enquanto, no México, um "bom índio" custava apenas cem."

Dess'arte, não seria exagerado supor que, sob as calmarias da paz porfirista, lavrasse a revolução. É curioso verificar, todavia, um fenômeno sociológico bastante raro, quando se estudam os pródromos da reação contra o materialismo do general Diaz. Coube a um banqueiro, oriundo de família de milionários, a chefia do movimento de 1910. O idealismo de Francisco I. Madero vence, pela energia da sua fé, uma ditadura de trinta anos. Permanecera, não obstante, o fermento militarista. O lirismo político de Madero teria que sucumbir aos golpes do sabre de Vitoriano Huerta. O novo ditador não representava uma garantia para o país, que reclamava as grandes reformas eleitorais e agrárias. Os partidos exaltam-se. Carranza, Pancho y Vila, Zapata, uma chusma de caudilhos se levantam. A nação transforma-se, outra vez, numa praça de armas.

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Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)

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