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Coelho
Neto e o Carnaval
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O Carnaval carioca, de fama mundial, tem merecido dos nossos poetas e escritores algumas páginas de extraordinário fulgor, em que a grande festa da cidade é admiravelmente exaltada.
Dentre os que se ocuparam do nosso
Carnaval, merece especial destaque o príncipe dos Prosadores Brasileiros,
Henrique Maximiano Coelho Neto, natural do Maranhão, mas que cedo veio para o
Rio, onde se identificou plenamente com a alma carioca.
Na sua imensa produção literária, de
mais de uma centena de volumes, pois é ele o escritor brasileiro que publicou
maior número de livros, muitos são contos, crônicas, conferências e peças
teatrais tendo a cidade por cenário ou ocupando-se de temas cariocas. Um de
seus livros se intitula, mesmo, "A Capital Federal".
Em toda a sua obra há, assim,
magnífico documentário da vida citadina, flagrantes interessantíssimos de
cenas, fatos e figuras indispensáveis ao conhecimento da cidade e de seus usos
e costumes. Não será exagero dizer ser leitura imprescindível a leitura de
Coelho Neto para bem sentir o que foi a vida no Rio, nos últimos tempos do
Império e primórdios da República.
Coelho Neto não foi apenas o
observador e narrador de tantos fatos importantes, mas, muitas vezes,
protagonista desses episódios marcantes da história da cidade e do país.
Pertenceu à geração privilegiada que ele tão bem retratou em "A
conquista" e no "Fogo fátuo", dando-nos preciosos flagrantes
duma época áurea do Rio.
Em "Palestras da tarde", uma
delas, realizada no Instituto Nacional de Música, em 1908, nos mostra a antiga
cidade, com seus usos e costumes característicos.
Nessa palestra sobre o tema "A
antiga cidade", Coelho Neto, na sua prosa fascinante, apresenta múltiplos
aspectos desse Carnaval de rua, então predominante, quando a cidade se enchia
de mascarados, com as suas grotescas máscaras e fantasias características: os
diabos, os dominós, os "velhos", os índios, o "burro", a
"Morte", "Pai João"; "Mãe Maria", princesas e
baianas. E recorda as luminárias e as músicas nos coretos e o povo todo
afluindo ao centro, para apreciar os desfiles tradicionais, sobre o Carnaval de
outrora, esse Carnaval que devemos fazer reviver. É a descrição dos préstitos
de antigamente. Vejamos:
"Os grandes carros alegóricos,
como os que ainda agora rebrilham nas avenidas e provocam polêmicas estéticas,
representavam: grutas micantes, marchetadas de malaquita, com águas vítreas
despenhando-se por arestas de ouro: caramanchéis floridos; labirintos
submarinos, onde brincavam cardumes de nereidas e tritões de escamas fúlgidas; templos
de colunas giratórias; nuvens leves de gaze estrelada servindo de supedâneo a
deusas; trirremes de proas enfloradas; árvores em cujos galhos balançavam-se
redouças; e, dentro de tais construções, os porta-estandartes ou as hetairas
reclinadas, mostrando-se ao clarão dos fogos de bengala, lânguidas,
correspondendo com beijos aos aplausos frenéticos da multidão em delírio.
E as guardas de honra, os séquitos
equestres de ninfas ou de amores, as cavalgadas de amazonas, e as borboletas de
asas de escumilha em carrinhos leves, toda a grei de Cítera numa ostentosa
exibição de corpos, que não eram inferiores aos de agora, nem na riqueza dos
ornamentos, nem na perfeição das formas.
Mas entre o fulgor de um carro
alegórico e um esquadrão venusto a gargalhada cascalhava estrondo à passagem de
um carro de crítica, comentando um acontecimento do ano, com personagens
conhecidas, afeiçoadas em estafermos de porte agigantado, e a troça vivaz, por
vezes irreverente, de um sócio gárrulo, a cujo aceno o monstro movia-se, um
tanto perro nos engonços, bracejando, espernegando, arrevesando cobras e
lagartos ou engolindo, com voracidade, propinas e negociatas.
E durante a passagem das sociedades a
Rua do Ouvidor ficava verdadeiramente entupida, com as janelas apinhadas de
moças, que esparziam pó de ouro sobre os carros mais belos".
---
Correio da Manhã, 2 de fevereiro de 1951.
Correio da Manhã, 2 de fevereiro de 1951.
Pesquisa
e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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