11/16/2019

Porque sou "isentão"



Porque sou "isentão"

O termo "isentão", usado pejorativamente para definir a pessoa que não assume com clareza sua posição ideológica, origina-se do adjetivo "isento" (de "isentar"), o qual denota, entre outras coisas, "aquele que julga sem parcialidade ou sem paixão".

Embora tal neologismo seja utilizado com mais frequência pelos partidários da chamada "Direita", ele também é aplicado de muitas formas pelos adeptos da "Esquerda". Em ambos os casos, porém, o objetivo é sempre o mesmo, ou seja, atacar quem não se prende a uma determinada vertente política. Daí o sentido depreciativo que se lhe atribuem. Em última análise, portanto, o termo teria a mesma equivalência de um xingamento ou ofensa, cujo plano de fundo remete sempre a algo próximo da intolerância. A existência do "isentão" funcionaria assim como uma espécie de afronta ao pensamento binário dominante, no qual não há espaço para a divergência de opiniões. O simples fato de alguém não se portar em defesa de um determinado político, isso em si já é suficiente para colocá-lo no rol dos "isentões".

A par disto e dada a minha condição de cidadão pensante e anônimo, prefiro mil vezes o rótulo de "isentão" a submeter minha consciência ao cutelo do próprio carrasco que me suplicia...  O fato de ser um "isentão" é o que me torna livre para criticar qualquer governo, sem me importar com siglas ou partidos; é o que me dá condição para mudar de opinião quando necessário, ou que me mantém firme numa ideia mesmo quando todos abraçam a unanimidade; ser "isentão" é o que me faz enxergar que a corrupção não é um fenômeno específico de determinada vertente política, mas algo intrínseco a todo um sistema corruptor, no qual estão inclusos tanto inescrupulosos como virtuosos; ser "isentão" é poder exercer com liberdade o meu direito de não colaborar com um sistema eleitoral autoritário e promíscuo, no qual o dinheiro do povo é repartido desproporcionalmente conforme a dimensão do "parasita" (aliás, não poderia ser um verdadeiro "isentão" apertando essa "descarga"). Enfim, é apenas como um "isentão" que posso exercer livremente minhas opiniões políticas, sem precisar vender a preço de banana a minha dignidade...

É isso!

2 comentários:

  1. Iba, concordo com você, com uma ressalva: O que você chama de binário eu chamo de polaridade burra (ou isto ou aquilo), porque já vi gente tratando binário da mesma forma que isentão e há casos em que, pelo menos para mim, não há como não ser binário.

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    1. Caro Sérgio,

      Pertinente sua observação... Agradeço a gentileza da participação... Abraços...

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