Coberta ainda pelos nevoeiros pardos da
manhã, Guadalajara, pintada de azul e branco, parece uma talavera. Dentre a
cortina dos plátanos imóveis e dos eucaliptos parados no ar, sobem, cortando de
chofre a claridade prateada e fina, as torres pontiagudas da catedral. Rompendo a penumbra das folhagens pulam, de trecho a trecho, as curvas
macias das cúpulas forradas de azulejos. O espaço é uma inquietação de pedras
que se arremessam tragicamente para o céu.
Essa madrugada colonial é uma lição permanente da história do novo
mundo. O ambiente da América absorve, nas suas solidões verdes e ásperas, os
vestígios do homem europeu. A paisagem índia contraria o desenho espanhol. A
rendilha churrigueresca dilui-se na atmosfera virgem das arvores mexicanas. E,
quando o sol tapatio, abrindo toda a sua luminosa corola, arde no
firmamento, Guadalajara fagulha em tons violentos e agressivos. O zarape de
Saltilho ou de Caxaca vence, nas suas geométricas coloridas, o misticismo castelhano.
O índio levanta-se, mais uma vez, nesse primeiro minuto de aurora, para repelir
o conquistador.
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Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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