7/06/2019

Ramo da esperança (Conto), de Raul Pompeia



Ramo da esperança

Um deles ergueu-se e olhou pelo mar...
– Terra?
– Não... não... Apenas o gume afiado e limpo do horizonte e o claro céu depois... Os náufragos recaíram na morna prostração do desânimo.
Três dias eram passados já que o incêndio e o oceano lhes haviam devorado
o navio e os companheiros. Só eles restavam. Eles e o pequeno batel que os levava.
O batel e o largo mar imenso...
Em roda, o sol quente e o medonho silêncio solene da calmaria morta.
À vista, nem um pano branco!... Nem a fumaça do continente, além!...
Guiavam-nos os cansados remos e a aventura; não havia mais pão; a água ia faltar.
O quarto dia despontou brumoso.
Ah! que o digam os marinheiros; o nevoeiro é triste como os sudários alvos.
O nevoeiro amortalha a coragem.
Perdidos!...
Mas alguma cousa avizinha-se sobrenadando. Todos olham.
Um braço mergulha sôfrego e levanta vitorioso ao ar um ramo verde...
Verde como a esperança!
Salvos!
Ali, ali mesmo na bruma, adivinha-se a terra firme, com as palmeiras verdes da pátria!

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